A Alemanha está com grandes problemas que estão interligados entre si: sua população está envelhecendo a velocidades assustadoras (no momento o grupo dos habitantes acima de 60 anos acabou de ultrapassar o grupo dos habitantes abaixo de 20) e as mulheres na Alemanha dão à vida, em média, só 1,37 crianças (essas estatísticas não deixam de ser engraçadas, apesar do fundo sério de verdade).
Já escrevi e repito que o país precisaria de 4milhões de imigrantes por ano, qualificados e participantes da população economicamente ativa, para equilibrar a estrutura demográfica do país e salvar o sistema social alemão.
A consequência, como não poderia de ser, é que não será possível manter o sistema da previdência e de aposentadoria tal como ele é mantido hoje em dia. Por um lado, a expectativa de vida está cada vez maior e, por outro lado, a sociedade alemã apóia as famílias de maneira insatisfatória, razão pela qual elas decidem ter poucos filhos. Na França existem escolas de período integral e na Escandinávia uma mulher pode ficar em casa com seu filho pequeno recebendo, se não me engano, 80% do salário durante os primeiros anos de vida da criança, enquanto que aqui na Alemanha, na minha opinião, o sistema contribui firmemente para que a mulher saia do mercado de trabalho e não volte nunca mais a participar dele, pelo menos em período integral.
A liçenca-maternidade é de dois meses antes e dois meses depois do nascimento da criança. Na teoria, tanto mães quanto pais podem tirar a liçenca-educação (válida para os três primeiros anos de vida do filho), mas a grande maioria das mulheres acaba ficando em casa, durante três anos. Depois deste período, muitas delas se acostumam à vida de mães e donas-de-casa e optam pelo segundo filho, deixando definitivamente de participar da população economicamente ativa.
Não há creches no estado onde moro, Baden-Württemberg, para crianças abaixo de três anos de idade, e na minha cidade há só uma creche em período integral para crianças acima de três anos. A escola então é uma grande batalha: os horários são totalmente desconectados, a cada dia as aulas começam num horário diferente e só com a ajuda de uma equipe extra de educadores, que oferece tipo uma creche no período da manhã, antes das aulas, e também depois das aulas, no período da tarde, além da ajuda da família que mora por perto, é que é possível ser mãe e trabalhar em período integral aqui na Alemanha.
O país não está preparado para receber estrangeiros em grande quantidade, esta é uma grande verdade. Se na Holanda existe um programa para receber os estrangeiros que vão morar no país, incluindo aulas do idioma, e em páginas oficiais de países escandinavos fazem propaganda aberta de que precisam de estrangeiros qualificados, aqui a verdade é a mesma, mas ninguém fala sobre o assunto.
As explicações para tanto são, de certa forma, históricas. Depois do fardo da Segunda Guerra Mundial e da perseguição aos judeus, os alemães acham que não podem ter sentimento nacionalista e quase nunca vêem o amor à bandeira como algo positivo. O governo alemão ajuda muitos estrangeiros tais como exilados políticos, dando casa, comida e ajuda financeira, tem uma política não declarada de imigração, mas não se vê no direito e nem no dever de divulgar as regras dessa política. A população em geral confunde a visão do estrangeiro: em sua maioria, ela acha que ele só irá “sugar” do sistema, não pagando impostos e não contribuindo para ele como um cidadão normal… Conclusão: seria bom que muitos imigrantes qualificados viessem para a Alemanha, mas não há uma política aberta que apóia e integra esses possíves imigrantes, eles não acontecem em grande número, o que acaba sendo ruim para o próprio país.
Por outro lado, em vista aos altos gastos com o sistema social alemão, parece-me que chegam a perceber que o sistema deixa a desejar em relação ao cuidado com famílias e suas crianças, mas como já estão gastando acima do que podem, não pensam em ampliar o sistema neste sentido. Ou se pensam, pelo menos no momento, fica só no pensamento. Estas duas medidas contribuiriam bastante para deixar o país prosperar de forma saudável, mas infelizmente elas parecem estar muito longe de se tornar realidade.