Vou voltar a bater nessa tecla porque acho o assunto muito importante. Se espero que pessoas estranhas tenham o interesse de me conhecer, de dividir comigo bons momentos, de trocar idéias e interagir comigo e se desejo fazer amigos por aqui não posso ficar de braços cruzados em posição de defesa, como se eles é que tivessem que se adaptar a mim e não eu a eles (logicamente sem deixar meus costumes e tradições para trás). Não posso cometer o erro que muitos cometem, primeiro tirando uma conclusão baseada em preconceitos de que todos os alemães são iguais, deixando assim que todos os acontecimentos reconfirmem minhas crenças, piorando a coisa ainda mais, perdendo tantas boas oportunidades de interagir positivamente com a cultura onde estamos inseridos.
Explico: ouço de muitos brasileiros que moram aqui na Alemanha muitas reclamações, de que o alemão é isso, é aquilo, é assim, é assado. Tudo bem, generalizações e pré-conceitos são mecanismos de todo o ser humano com o fim de tornar mais simples a percepção do mundo complexo que nos rodeia. Tudo bem, lidar com alemão nem sempre é fácil, é verdade. Não dividimos a mesma cultura, não temos os mesmos costumes. Eles não falam a nossa língua e nem nos entendem só através de um gesto ou de um sorriso. Algumas coisas que para eles são normais, para nós podem ser absurdas (tipo assoar o nariz à mesa ou ir à sauna pelado). E vice-versa. Nem sempre a comunicação verbal significa entendimento e a comunicação não-verbal também pode ficar cheia de maus entendidos.
Mas se eu não dou uma chance para o outro e acima de tudo para mim mesmo, como vou ter a chance de conhecer pessoas legais aqui do outro lado do mundo??? É muito fácil me colocar na posição de vítima, dizer que todos os alemães sao frios ou fechados e procurar viver aqui como se estivesse no Brasil, tendo somente contato com brasileiros, não me integrando na cultura e nos costumes locais, não aprendendo a língua alemã de forma razoável, como tantas outras nacionalidades fazem tão bem por aqui. Não é todo alemão que está interessado em integrar um estrangeiro ao seu meio, isso é certo, mas há outros que se interessam pelo ser-humano atrás do estrangeiro e por outro lado há muitos estrangeiros interessados em continuar morando aqui como se ainda estivessem em seu país de origem. Tudo é uma troca, uma questão de decisão e de postura. Mas é uma troca muito mais bonita e válida para ambas as partes se decido, a cada dia, ser simpática para com o meu semelhante, mesmo que ele nem sempre seja simpático comigo. Não se engane, se um alemão quer ser antipático e seco, ele será com a primeira pessoa que aparecer na sua frente, não importa quem ela seja, estrangeira ou não. Muitas vezes o pior problema é a intepretação que tiro de um acontecimento, não o acontecimento em si, isolado. E se alguém foi chato comigo ontem, nada o impede de passar a ser simpático comigo amanhã.
Nestas linhas não estou deixando o alemão preconceituoso de fora. Os que são preconceituosos e nos dizem o que pensam de frente ainda têm como trocar idéias conosco e ver que não é bem assim. Piores logicamente são aqueles que nos tratam super bem e por trás ou na hora « H » nos deixam na mão. Mas temos que saber separar o « joio do trigo » e saber reagir a problemas, aprender a reclamar por nossos direitos, a denunciar atos preconceituosos, a enfrentar situações incômodas, tudo com muita delicadeza e a certeza de que não sou nem pior nem melhor do que o outro, só diferente dele, mas tão digno de respeito quanto ele é. Muitos alemães precisam testar o território para saber até onde podem ir com determinada pessoa, e temos mesmo às vezes que mostrar que exigimos respeito e não aceitamos determinadas situações. Temos que impor respeito. Há muitas situações que nos cansam a idéia e nos levam a pensar que lá do outro lado do oceano nesse sentido é bem mais fácil. Mas será que é mesmo??? Não será também outra generalização???… Lá o primeiro contato pode ser muito mais simples, mas tanto lá como aqui existem pessoas de bom coração e outras pilantras, umas corretas e outras corruptas, enfim seres humanos de todos os tipos e cabe a nós descobrir o que vem no coração de cada um que passa por nossa vida.
Realmente, nem tudo são flores. Fazer amizade aqui é uma coisa demorada, que requer muito tempo, paciência e tolerância. Mas temos que manter os olhos abertos, o coração em prontidão e um sorriso nos lábios para podermos aproveitar as chances que nos são tão bondosamente colocadas em nossas vidas para encontrar pessoas especiais, não importa de onde quer que elas venham. O pior preconceito é o preconceito saído de nós mesmos.