Depois da morte do cineasta Theo van Gogh na Holanda e das reações pouco amistosas a este fato ao redor daquele país, no meio do mês de novembro de 2004 também foi jogado um coquetel molotove na entrada de uma mesquita aqui na Alemanha. Apesar de não ter havido mortos ou feridos, isso foi motivo suficiente para que todos os políticos se manifestassem, passeatas fossem feitas, uma movimentação incrível acontecesse em cima do medo de que aqui o problema também escale e tome proporções incontroláveis como parece estar tomando no país vizinho.
Por um lado, este fato tem um lado bem positivo. Começaram de uma hora para outra a discutir uma grande questão por aqui: a integração. Os vários imigrantes que foram trazidos para cá depois da Segunda Guerra Mundial (turcos, espanhóis, portugueses, etc.) vieram para fazer um serviço que poucos alemães queriam fazer e ninguém se preocupou com integração porque a esperança era de que essas pessoas fossem embora, depois do trabalho feito. Pois bem, ela só não foram embora, como procriaram por aqui, muitas delas tendo trazido o seu futuro cônjuge do seu país de origem. Constatei que nesta geração a vontade de integração, dos dois lados, era praticamente inexistente: as pessoas que vinham de fora procuravam (e procuram até hoje) viver aqui como se ainda estivessem em seu país de origem e por outro lado muitos alemães falavam alemão errado por terem a impressão de que assim o estrangeiro o entenderia “melhor”. Resultado: algumas vezes por falta de vontade e outras pela síndrome de repetência do que foi ouvido, essa geração de imigrantes fala pouco – e mal – a língua alemã.
O mesmo não aconteceu com a segunda geração que aqui nasceu, que já assimilou muito da cultura vigente, mesmo sem deixar de lado as tradições da cultura estrangeira. Apesar de muitos deles se sentirem alemães, eles não têm a permissão de ter um passaporte alemão, já que a lei daqui é, com poucas exceções, a lei do sangue e não do local de nascimento. Os alemães tampouco reconhecem essas pessoas como alemãs, pois mesmo se esses filhos de imigrantes obtivessem o passaporte alemão, seriam denominadas como “alemão de passaporte com origem tal e qual”. E eles se sentem assim que nem a gente, totalmente estrangeiro que veio parar nas bandas de cá, mas acho que ainda pior do que nós porque nasceram aqui, mas não são reconhecidos como tal, dizem pra eles que são isso ou aquilo, mas na realidade nem eles mesmos sabem quem são ao certo. De certa forma eles são excluídos e percebem que não são necessariamente bem-vindos, o que abre as portas para possíveis tendências extremistas.
Pois bem, o coquetel molotove caiu lá na bendita da mesquita e de repente até o primeiro ministro convoca os muçulmanos para assimilar os valores alemães de democracia. Outros lembram-se de dizer que as pessoas que estão aqui têm que saber assimilar a cultura e devem ter disponibilidade para aprender o idioma, pressuposto para a integração. Alguns poucos lembram-se de voltar-se aos próprios alemães e convocá-los para que estejam dispostos a aceitar a integração, pois integração é, afinal, uma via de mão dupla onde um lado só vai, se o outro deixa que ele avance. Integração é acima de tudo uma troca, onde eu dou um pouco do que é meu, e recebo muito do que vale aqui. E não significa sufocar meus valores primordiais, significa que eu aceito as leis daqui para poder viver bem dentro da comunidade em que me encontro.
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