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:: Como se sente uma pessoa que muda de país?::

28/01/2005

Peguei no Fórum do Viver um pensamento da Lulu que diz o seguinte: “Mudar de pais é nascer de novo, temos tudo a construir e muitas barreiras a pular, depois de escalarmos as montanhas seremos vitoriosos”. Isso é verdade absoluta.

Lembrei-me imediatamente do meu poeminha intitulado “Cabral Moderna”, também parte desta coluna, que expressa o sentimento de quando cheguei aqui. Ao mesmo tempo em que estamos maravilhados com o novo, estamos perdidos como um peixe fora d’água: nos sentimos inseguros, dependentes, sem saber direito como o mundo lá fora funciona e só querendo “colo”.

Para animar aqueles que estão em processo de adaptação ou aqueles que ainda estão planejando ou pensando numa mudança, adaptar-se a um país hoje em dia pode ser muito mais fácil do que há 10 anos atrás, por exemplo, quando não havia ainda a internet e a globalização não tinha avançado tanto ainda como hoje.

Para vocês terem uma idéia, há 10 anos atrás tudo aqui era diferente do Brasil, as músicas que passavam no rádio eram outras, a moda, nada era tão igual, em sentido geral, quanto é hoje. E pior, eu dependia totalmente das cartas e da bondade dos Correios de transportá-las o mais rápido possível, pra não murchar de saudade nesse meio tempo. Mesmo assim, às vezes uma resposta chegava, me consolando, por exemplo, e meu estado de espírito já era outro completamente diferente. Obter informações do Brasil, em geral, também era muito difícil. Lembro-me de uma vez que recebi uma Folha de São Paulo ou Estado de Minas, não sei mais bem ao certo, e apesar das notícias estarem todas fora de época, eu li o jornal do começo ao fim com a avidez de tentar matar um pouquinho a minha fome de notícias do país…

Pois é, apesar de todas essas facilidades de hoje em dia, os quilômetros que separam o Brasil da Alemanha infelizmente não mudam e o fato é que a distância – e a saudade – doem! As quatro estações do ano, por mais bonitas que sejam, também continuam indo e vindo, e dentre elas o inverrrrrrrrrrno, nosso querido amigo. Os costumes e tradições daqui são, como não poderia deixar de ser, totalmente diferentes dos nossos e no começo a pessoa fica meio que decifrando os sinais externos e os codificando, pra aprender a viver (primeiro sobreviver) do lado de cá.

A pior barreira de todas, muito acima de todas as nossas diferenças culturais ou climáticas, foi e continuará a ser o idioma. Portanto, a dica que posso dar é que a pessoa invista de corpo e alma no aprendizado da língua alemã. Como todos sabemos, não é um idioma fácil, mas não deixa de ser bonito, rico, muito certinho e passa até a ter um som mais agradável para nossos ouvidos acostumados com a maciez do português. Uma curiosidade: se você souber inglês, no começo do aprendizado mais intenso do alemão, vai praticamente esquecer este idioma. Mas com tempo e calma, ele volta aos seus neurônios!

Por último, preservar as raízes e manter contatos com outros brasileiros aqui e no Brasil é super importante, mas a pessoa deve procurar também manter contato com muitos alemães, até por interesse próprio, pois isso ajuda muito na adaptação e no aprendizado do idioma. É melhor também pedir para os amigos corrigirem os erros, pois muitos alemães acham, muitas vezes, falta de educação corrigir outra pessoa e ficamos achando, erroneamente, que os erros estão diminuindo, quando na verdade não estão sendo corrigidos.

As comparações persistirão por toda a caminhada (tipo “aqui isso é assim, no Brasil é diferente”), mas não vale mesmo a pena ficar emperrado no por quê das coisas e insistir no fato de que o mundo externo se adapte à mim, quando quem tem que se adaptar sou eu em relação ao mundo externo. O melhor é aceitar nosso novo ambiente como ele é, não lutar contra ele, mas seguir com ele, acompanhá-lo e não virar as costas para ele.

Um último toque sobre a solidão, nossa velha conhecida: todos se sentem sozinhos, mesmo uma pessoa que já mora aqui há anos sente-se sozinha às vezes, pois ela não está mais em seu país, em seu meio. Mas lembre-se que tudo depende de você: invista em contatos, faça amizades, inscreva-se em cursos, faça a sua parte e com certeza a recompensa vai ser satisfatória.

:: Um ano de coluna – afirmação do direito à liberdade de expressão::

14/01/2005

Há um ano atrás escrevi essas poucas linhas:

“Deixo aqui o endereço desta página muito informativa feita de brasileiros para brasileiros na Alemanha. Ganhei de presente o prazer de poder escrever e ver publicada lá uma coluna quinzenal, que está sendo inaugurada hoje com o texto “A Alemanha depende dos imigrantes”. Aguardo sua visita! Obrigada!”

E neste mês de janeiro de 2005 estou comemorando, junto com vocês, um ano de coluna no Viver na Alemanha! Bom, a coluna nem sempre foi quinzenal, mas mesmo assim tem sido bastante periódica. Quero agradecer aqui a todas as pessoas que por meio de comentários, e-mails, pessoalmente ou através do Fórum do Viver deixaram suas opiniões e discutiram junto comigo alguns dos temas abordados por mim.

Todo escritor reflete a sua realidade, e portanto o que escrevo não tem a pretensão de ser a única verdade, pois é subjetivo, como não poderia deixar de ser. Da mesma maneira, sou um ser humano normal e posso e tenho o direito de mudar de opinião – consequência normal depois de mais alguns anos vividos, discutidos, partilhados, divididos e somados com outras pessoas.

Mas o ponto onde não “arredo o pé” é quanto à questão da liberdade de expressão. Da mesma maneira que um estrangeiro morando no Brasil pode e deve abrir a boca para comentar situações do nosso país que lhe dizem respeito e influenciam sua vida, nós, brasileiros na Alemanha podemos sim e devemos “colocar a boca no trombone” e discutir temas atuais, dos mais variados temas, não só daqui, como do Brasil e do mundo. Só assim crescemos enquanto pessoas, dividimos experiências, tristezas e alegrias.

Claro que sou contra aqueles que só sabem criticar, onde quer que essas pessoas estejam. Da mesma maneira em que não acredito em pessoas que juram que um determinado país é o paraíso na Terra. Cada país tem seus prós e contras, e por isso não adianta procurar, pois não vamos encontrar um país perfeito no mundo. O que procuro é passar pra frente algumas de minhas observações, depois dos meus 12 anos vividos na Alemanha, e se algo vivido, observado ou assimilado por mim porventura vier a ser do agrado ou se vier a ajudar, de alguma forma, outra pessoa que esteja se preparando para vir para a Alemanha ou que já esteja aqui, terei atingido meu objetivo.

Quero convidar todos vocês a sugerir novos tópicos para a Coluna e também a continuar participando ativamente das discussões. Por último, quero desejar para vocês um bom início de ano, repleto de momentos felizes, muita paz no coração e harmonia na alma. E as discussões continuam…. Um beijo!


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