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::Frutas e legumes::

20/05/2005

Quer ver um alemão plantar dois grandes olhos em sua direção? Comece a descascar uma laranja como a descascamos no Brasil (e de preferência mostre toda a sua habilidade em conseguir descascar a laranja de uma vez só, dando giros sem parar…) e depois corte-a como quiser, no meio, fazendo “tampinha” ou “cisterninha”. Por fim, comece a apreciar seu sabor… Os alemães vão com certeza fazer algum comentário, pois essa maneira de comer laranja não existe por essas bandas, é muito nossa, é muito Brasil.

A lista de diferenças, só na questão frutas, é grande. Outro exemplo é o abacate: nunca vi ninguém aqui comer abacate como eu comia na minha infância: só partia o abacate no meio, tirava a semente do meio, colocava algumas colheres de açúcar e… mandava ver! Ou fazia uma deliciosa batida de abacate. Hummmmmmmmmm! Repeti essas duas tradições ontem à tarde e fiquei pensando como as diferenças culturais tocam em cada parte da vida da gente. Abacate aqui é usado principalmente em comida de sal, como por exemplo em saladas. E, contrariando nossa expectativa, já que só o conhecemos como comida doce, misturado a comida de sal ele fica também muito gostoso!

O fato é que fruta aqui é super cara e muitas vezes não tem gosto de nada. Mas eu só como fruta quando tem gosto de fruta, não vai ser pela aparência de uma manga que vou comê-la tendo que lembrar nesse momento do verdadeiro sabor de uma manga… Por isso, desenvolvi duas estratégias, que queria dividir com vocês, para conseguir comer frutas e legumes na Alemanha com gosto de comida de verdade.

Primeiro, cheire tudo antes de comprar. Isso, cheire. Eu nunca compro laranjas ou tomates sem cheirar. E quase sempre dá certo. Se o tomate não cheira a tomate, seu gosto vai ser de “isopor”…. E se a laranja não tem cheiro de laranja, ela também não vai ter gosto nenhum. Outro dia achei uma laranja espetacular e comprei uma caixa de 5 quilos, que para minha felicidade estava em oferta. Comi tudo, voltei lá e comprei outra caixa. Em uma semana comemos 10 quilos de laranja, do jeito que comia na roça da minha avó, uma atrás da outra. Mas isso é exceção: é difícil achar aqui frutas gostosas pra comer e que sejam compráveis.

Segundo: se possível, não compre suas frutas e legumes no supermercado, vá a uma feirinha, de uma olhada onde há qualidade. Neste caso, è melhor comprar menos e melhor do que comer um monte de coisas sem gosto.

Terceira e “grande” dica: há em muitas cidades alemãs um sistema de venda de cestas e legumes, aqui na minha região ele se chama “Grüne Kiste” (cesta verde). Em Munique, segundo minha irmã, ele se chama “Öko Kiste” (cesta ecológica). Eu entrei nesse sistema há algumas semanas e desde então recebo aqui na porta de casa uma seleção de frutas e legumes da estação vindos de uma fazenda da região e totalmente sem agrotóxicos, de produção totalmente controlada. Eu posso escolher o que não gostaria de receber de jeito nenhum e se gostar muito de algo, posso pedir pra receber toda semana. Comecei a experimentar legumes que não conhecia ou não tinha o costume de preparar e passei a comer com muito mais satisfação, pois um alface tem gosto de alface, uma banana tem gosto de banana e por aí vai. Mas como tudo na vida, essa cesta também tem seu preço. De qualquer maneira, optei por qualidade e penso que podemos gastar nosso dinheiro só uma vez. Optei gastá-lo com boa comida, ao invés de mais tarde com remédios.

Bom, é isso aí. Bom apetite!

::Gravidez e parto na Alemanha::

03/05/2005

Depois que a gravidez é atestada através de exame de urina, sangue e de ultrasonografia, a grávida recebe um passaporte materno, o “Mutterpass“. Nele estão contidas todas as informações importantes e necessárias para o bom acompanhamento da futura mamãe e ele serve também como preparação para os cuidados a serem tomados por ocasião do nascimento. Para entender direitinho o que está registrado no passaporte materno, clique neste link (em alemão)

A maioria dos médicos ginecologistas aqui na Alemanha ainda trabalha com ultrasonografia 2D, mas em casos específicos e se a futura mamãe desejar, ela pode procurar um médico que também faça a ultrasonografia 3D, que mostra detalhes bem mais visíveis do bebê.

É fato que a probabilidade de perder o feto durante os três primeiros meses de gravidez é muito grande (perto dos 25%, segundo estou informada). Portanto, muitas grávidas aqui na Alemanha só contam que estão esperando um bebê depois do 4° mês de gestação. Ao contrário da Inglaterra, onde ninguém quer saber o sexo do bebê antes do nascimento, aqui as famílias optam por saber ou não o sexo, de acordo com sua vontade e com as possibilidades oferecidas pelos exames de ultrasonografia.

No começo da gravidez, a futura mamãe visita seu médico ginecologista uma vez por mês, e mais para o final da gravidez (a partir da trigésima semana) ela passa a visitá-lo de duas em duas semanas. O médico ginecologista invariavelmente não será o mesmo que estará acompanhando o nascimento do bebê, a não ser que este seja um médico que trabalha dentro da maternidade. Na Alemanha, na realidade, quem estará ao lado da futura mamãe ou do casal na hora do parto é a parteira, sendo que só se houver necessidade de operação (por exemplo, de cesárea) é que o médico obstetra será chamado à sala de parto.

A futura mamãe pode se preparar para receber o seu neném através de cursos de ginástica (aquática ou não), ioga, dança do ventre, primeiros cuidados com o bebê, etc. Uma boa dica para quem já tem um filho e não precisa dos cursos normalmente oferecidos para as “marinheiras de primeira viagem” é procurar uma parteira para receber por exemplo massagens e sessões de acupuntura, que também são cobertas pelo sistema de saúde do governo e fazem um bem danado, tanto para a futura mamãe quanto para o neném! Outra dica: depois do nascimento, o sistema de saúde também cobre uma ginástica especial para as mulheres que passaram por um parto. Não deixe de fazê-la! As visitas da parteira em sua casa depois do nascimento também são outro direito coberto pelo sistema de saúde.

As leis alemãs resumem no “Mutterschutzgesetz” todos os direitos que a futura mamãe tem em relação ao seu ambiente de trabalho, antes e depois da gravidez. Uma mulher que trabalha tem o direito de licença-maternidade de 6 semanas antes e 8 semanas depois do nascimento do bebê. Caso a mulher decida voltar a trabalhar (horário integral ou parcial), durante a fase da amamentação ela terá o direito de trabalhar uma hora a menos por dia ou de fazer duas pausas extras de meia-hora. A maioria das mães aqui fica três anos em casa, o chamado “Elternzeit“, que pode ser dividido entre pai e mãe, mas também pode-se optar para que ambos os pais fiquem em casa tomando conta do filho, ou que ambos ou um deles passe a trabalhar meio-período (até 30 horas semanais). Como a Alemanha tem uma taxa muito baixa de nascimento (1,2%), o governo tem intencionado facilitar a vida das novas famílias no país, apesar de que hoje em dia só se consegue para 2-3% das crianças abaixo de 3 anos um local adequado (por exemplo um hotelzinho) para que os pais possam trabalhar durante este período. A nova família recebe, de acordo com sua renda, o “Erziehungsgeld” (ajuda governamental para famílias) durante até 2 anos depois do nascimento da criança e além desta ajuda toda criança tem direito ao “Kindergeld”, que é de 154 euros para as primeiras duas crianças da família, aumentando de acordo com o número de filhos.

Existe uma discussão enorme entre brasileiras que vivem na Alemanha se é melhor ter o parto no Brasil ou aqui, se é melhor ter cesárea ou parto normal, com ou sem anestesia. Eu, como não poderia deixar de ser, tenho uma opinião formada a respeito. Acredito que o nível de cesárea no Brasil, que beira 90% dos partos realizados no país, é totalmente exagerado e esconde interessses financeiros dos médicos, já que uma cesárea é mais cara do que um parto normal. Uma cesárea pode ser mais rápida e prática, mas não deixa de ser uma operação e a recuperação da mulher, se comparada à recuperação no caso de parto normal, é mais lenta. Aqui na Alemanha a grande maioria dos partos é normal, se possível, e só se realmente não for possível é que é feita uma cesárea. Pelo que fui informada, 25% dos partos hoje em dia é feito através de cesárea.

Há uma onda muito grande aqui pela defesa do parto natural sem anestesia. Há alguns anos atrás alegava-se até que uma anestesia poderia ser maléfica para o bebê, mas hoje em dia isto já não é argumentado e todos os métodos para evitar as dores do parto são apresentados, sendo que a futura mamãe é quem escolhe as opções que mais lhe agradarem. Elas vão de métodos totalmente naturais (homeopatia, banhos, acupuntura, etc.) até a PDA – anestesia peridural. Caso a futura mamãe tiver interesse pela PDA, mesmo que não se fixe a esta opção, ela deve apresentar-se previamente à maternidade onde pretende dar a luz a seu filho, a fim de que ela possa se encontrar com o anestesista responsável e cuidar de todos os detalhes ligados à aplicação da mesma. Com relação ao corte na entrada da vagina, este só é feito se for realmente necessário e o índice desses cortes, segundo fui informada na maternidade da minha cidade, felizmente tem caído a cada ano.

A sala de parto aqui na Alemanha apresenta várias opções para o parto, tais como: cama normal de solteiro, cama de casal (se o marido ou acompanhante quiser se deitar junto com a grávida na hora do nascimento), banquinho para a futura mamãe se agachar, enquanto seu marido ou acompanhante senta-se por detrás dela, fazendo, por exemplo, massagem nas suas costas. Ela também pode optar pela ajuda da lei da gravidade e se “dependurar” no marido ou numa corda. Há uma bola enorme de plástico para ajudar nas massagens e muitas clínicas também oferecem a oportunidade da futura mamãe ter seu parto na água, numa enorme banheira com entrada lateral. Na clínica da minha cidade pode-se ainda levar músicas e óleos para o trabalho de parto, afinal eles procuram oferecer de tudo um pouco e ainda aceitam sugestões para que o parto transcorra da melhor maneira possível.

Depois do parto, os bebês costumam ficar junto de sua mamãe, dia e noite. As enfermeiras auxiliam nos primeiros dias, por exemplo, com os cuidados relacionados à amamentação. Dependendo do estado da mãe e de seu filho, ela pode optar por ir para casa logo depois do nascimento ou por ficar alguns dias na maternidade.

Curiosidade: há muitas famílias que optam pelo nascimento do bebê em sua casa. Minha parteira me contou que uma família que ela atende tinha acabado de comprar uma casa, quis que o nascimento do filho fosse dentro de suas quatro paredes e também plantou a placenta no jardim da casa, como simbologia do nascer e do início da vida em família.


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