Chegar aqui e se sentir um peixão fora d’água é fácil. Difícil é descobrir as regras de boa convivência que não estão escritas em lugar nenhum e que permeiam a convivência deste povo nesta cultura. Vamos lá a alguns exemplos:
– Altura da voz: um brasileiro facilmente chamará a atenção pela altura em que fala, como e quanto(!) fala, e como fala! Aqui a maioria das pessoas são reservadas, perguntam pouco, falam o necessário.
– Barulho: sair do Brasil e voltar pra Alemanha, principalmente no verão do Brasil e no inverno daqui, é um exercício de “como tentar não ficar depressivo em um minuto”. O Brasil é um país barulhento, musical, interativo. Tudo emite sons: o vizinho, a rua, os automóveis, as pessoas… Se eu faço barulho, tolero o barulho do vizinho. E se quero fazer festa até tarde, convido o vizinho para participar da mesma e na próxima festa dele também serei convidado. Pronto. É isso. Aqui não tem disso não. Buzina, por exemplo, só é usada em situações excepcionais. E o inverno não tem barulho, ele é a ausência total de barulho. Ssssssilêncio!
– Limpeza: desculpem-me, mas tenho que tocar neste assunto. Quando eu morava no Brasil a desculpa generalizada para a sujeira das cidades era “eu jogo lixo no chão porque todo mundo joga”. Ora bolas, se eu não jogasse, e se o outro tomasse a mesma decisão, viveríamos em cidades mais limpas, não é mesmo? Mas aqui é super limpinho e os jardins, tanto privados quanto aqueles comunitários, são lindinhos e bem cuidados. Portanto, caso você ainda não faça, contribua para a beleza e limpeza das ruas, não importa onde quer que você esteja. Não deixe para amanhã se esse pequeno grande ato pode ser feito hoje.
– Mania de ar puro: alemão tem mania de sair para dar um passeio para respirar um ar puro, mas odeia ficar em ambientes com janelas abertas, odeia carros com janelas abertas, pois odeia correntes de ar. Portanto, saiba que ar puro é só lá fora!
– Falar do tempo: no começo de Alemanha eu mal suportava essa mania nacional, mas agora já me acostumei. Alemão adora falar – e reclamar – do tempo! Se está frio, está frio demais, se está quente, idem. Muitas conversas se iniciam através da troca de informações sobre o tempo e o alemão, em geral, se informa muito bem a este respeito. Estar por dentro das previsões metereológicas é, portanto, uma boa idéia se você quer participar ativamente do início de um “small talk” pelas bandas de cá.
– Segurar a porta: se você passa por uma porta primeiro, lembre-se de segurá-la para a próxima pessoa que está atrás de você. Isso é feito por homens e mulheres, aliás aqui não há muito cavalheirismo, pois muitas mulheres não aceitam e tanto homens quanto mulheres são educados para serem gentis entre si.
– Perguntas: alemão praticamente não pergunta muito sobre você ou sua vida pessoal, pois isso poderia significar uma invasão à sua privacidade. Do contrário, no Brasil quase deixamos um estrangeiro “nu por dentro” de tantas perguntas que colocamos, de tanta coisa que queremos saber. Portanto, se poucos aqui colocam questões pessoais para você, não estranhe e aceite.
– Encostar enquanto se fala ou a distância entre as pessoas ao falar: existem estudos que mostram que cada povo mantém uma distância ao interagir com outras pessoas. A verdade é que a nossa distância no Brasil é definitivamente menor do que a do alemão. Por isso, se estiver falando com um alemão e, sem perceber, encostar nele (como de costume no Brasil) ou chegar muito perto dele, e ele automaticamente se afastar um pouco, não o siga, mas fique onde está. Isso pode significar que ele tenha chegado à distância em que está acostumado a manter de outras pessoas.
– Outras regras? Sei lá, agora não me vem nenhuma mais à cabeça. Existem mais mil e uma, com certeza. Qual é a sua?