O texto a seguir foi escrito de início para dar uma força para uma amiga virtual, mas depois que ele estava pronto achei que ele pudesse ser lido por outras pessoas e talvez fizesse o mesmo efeito.
Acabo de ler mais um pouquinho do seu blog. Aquela parte da frustração por você ter se formado, não ter experiência de mercado e não ir nem pra frente nem pra trás. E pra te animar queria te contar que comigo foi igualzinho.
Eu fiz duas faculdades e passava a tarde que restava aprendendo idiomas. Sabia de todos os filhinhos de papai que teriam chances desiguais (e tiveram mesmo, assim que terminaram o curso) e das dificuldades da vida, mas acreditava que teria um lugar ao sol por ser esforçada. Foi difícil aceitar que não era verdade, pelo menos não foi no começo. Eu passei pra uns concursos, fui parar no BEMGE (naqueles tempos o Banco do Estado de Minas Gerais), era escriturária e chorava todo dia: ou antes de ir, ou depois de chegar do trabalho. Minha mãe dizia que todo mundo começa por baixo, mas a questão nao era esta. Eu não estava satisfeita só por estar começando por baixo. Até aí tudo bem. Mas ganhar dois salários mínimos e estar fazendo um serviço que não exigia nada da qualificação que eu tinha adquirido durante a faculdade… E eu não via nenhuma possibilidade de mudar aquele quadro de um dia pro outro. Pra completar, por eu ter feito dois cursos e ter entupido meu tempo com o aprendizado de idiomas e com bolsista da CAPES, eu não tinha experiência nenhuma, “só” vontade e muita vontade de batalhar e de me esforçar.
A solução pra mim foi batalhar um estágio aqui na Alemanha. Eu consegui e perdi a oportunidade 3 vezes… Na terceira vez, quando eu tinha desistido de vez, quando estava 100% perdida, sem curso, sem trabalho e sem rumo, eu consegui o tão sonhado estágio. Um ano na Alemanha, nova vida, nova dimensão na minha vida, tudo novo. Eu vim pra ficar um ano mas acabei ficando de vez, hoje são 12 anos de Alemanha.
Tem gente no Brasil (meus parentes e alguns amigos) que teimam em dizer que eu teria tido a mesma chance que tive aqui se tivesse ficado no Brasil e continuado na batalha. Mas eu não acredito, pois talvez eu defina o termo “qualidade de vida” de forma diferente. Acho que encontrei aqui (apesar do labuta do dia-a-dia ser árdua, de cada euro ser duro de ser ganho) aquilo que queria pra minha vida e estou relativamente feliz no meu cantinho, cá no alto do prédio, debaixo do telhado, do lado esquerdo, no cantinho da sala, digitando minhas idéias e tentando te passar um pouquinho de ânimo de que “sim, a vida pode melhorar”.