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::Os benefícios da Copa::

25/06/2006

Eu tenho notado umas coisas super positivas agora durante a Copa que não quero deixar de relatar.

O slogan da Copa é “bem-vindo entre amigos” e a Alemanha está conseguindo honrar este slogan. Antes do início dos jogos, a única certeza era de que a eficiência alemã iria cuidar para que tudo corresse da melhor maneira possível, sem maiores contratempos, com a melhor infra-instrutura e excelente organização. O grande medo estava do lado do movimento de extrema-direita dentro do país, que hoje em dia não alcança grandes proporções, mas poderia ter sido capaz de estragar parte da festa e que via a Copa como grande oportunidade para lutar por seus tolos ideais. Apesar desse pessoal de extrema direita ter se preparado com muito material publicitário, CD, música, camisetas com slogans de extrema-direita, etc., eles saíram às ruas, pelo menos até agora, uma única vez, e conseguiram reunir só algumas centenas de pessoas. No mesmo dia, na mesma cidade, foi feita uma passeata que reuniu muitas mil pessoas mostrando ser a favor da multiculturalidade e contra o movimento neonazista. Isso bastou para que eles desistissem de atuar (pelo menos até agora) e o clima de festa de todas as raças, cores, sabores e nacionalidades se instalou.

O alemão sempre teve problema pra assumir sua nacionalidade. Eles morrem de medo de serem acusados de extremistas, têm problemas para mostrar orgulho da Alemanha, das conquistas e dos pontos positivos do país, não se sentem bem em declarar seu amor à pátria. Isso por causa do passado pesado do país e porque este é visto e revisto na escola, nos meios de comunicação, quase sem parar, dia e noite e noite e dia, como maneira de mostrar que sim, lógico, a Alemanha errou, e não quer repetir esse erro jamais. Mas com isso eles acabam passando um sentimento de culpa para as gerações que hoje, na minha opinião, não têm como arcar com o peso dos erros do passado.

Como moro bem pertinho da Suíça, é muito interessante observar a paisagem quando se ultrapassa a fronteira. Imediatamente aparecem bandeiras suíças de todos os tamanhos e em todo canto, mostrando como o suíço é orgulhoso do seu país. Em tantos anos na Alemanha, poderia contar nos dedos de uma mão as vezes em que vi uma bandeira dentro do país.

Agora, com a Copa, e com tanta gente de tantos países por aqui, e também bem devagar, pelo fato do time alemão ter ido avançando na competição e ter adquirido o respeito do torcedor que antes que não dava nada por ele, bem devagarzinho mesmo começaram a aparecer bandeiras alemãs nas janelas, bandeiras bem pequenininhas nos carros, brincadeiras sobre “seremos campeões” ou afirmações de que “vai dar Brasil contra Alemanha na final” e as vendas da camiseta oficial da seleção alemã pularam de 250.000 na Copa anterior para, no momento, mais de um milhão de camisetas. O torcedor encontra, junto do futebol, sua identidade e se sente bem como alemão, e desta forma também muito bem com outras nacionalidades.

O tema da música oficial da Copa do cantor alemão Herbert Gronemeyer se chama “Zeit, dass sich ‘was dreht” (É hora de acontecer algo) e essa música é bonita, não só porque tem duas interpretações: é hora do time da Alemanha ganhar, mas acima de tudo é hora de acontecer algo bom no país, e ninguém pode negar que isso já foi alcançado, mesmo que ainda estejamos no meio das oitavas de final. Mesmo se a Alemanha não for campeã nas competições, o país já ganhou com a Copa.

Outra coisa super bonita é que muitos alemães (ou europeus, em geral) não vestem só a camiseta da sua Seleção, e nem dependuram só sua bandeira, mas vestem também outras camisetas de outras seleções, festejam junto de outras torcidas e dependuram em suas casas ao lado da bandeira alemã muitas outras bandeiras, mostrando respeito e admiração por outros times.

E muito legal também é ver que tantos voluntários ajudam, em todo o país e a qualquer hora do dia e da noite, a garantir que a festa seja bonita, positiva e que se alguém festejar demais ou passar da conta, haverão pessoas para ajudá-los imediatamente, com serviço médico, ambulância, todo o esquema montado para evitar qualquer transtorno maior. As rádios locais dão assistência aos torcedores em direção aos estádios, com serviço de informação sobre o trânsito local feito em vários idiomas, de acordo com o jogo que estiver por acontecer.

Juntando tudo, só posso dizer que o clima melhorou neste país com a Copa, não só na temperatura, mas também dentro da cabeça das pessoas. Que ele continue assim por muito tempo, pois faz muito bem ao país!

::Querido torcedor brasileiro::

03/06/2006

WeggisEm Weggis, na Suíça, a cidade onde nossa Seleção treinou antes da Copa, tive a oportunidade de conhecer um grupo de 6 jornalistas da Globo, que estavam ali cobrindo os acontecimentos ligados aos nossos Canarinhos e os acompanhariam durante todos os jogos dentro da Alemanha. Eles estavam, diria eu, pensando alto dentro do bondinho que nos levava do alto da montanha de Rigi de volta à cidade, num maravilhoso passeio panorâmico onde se podia ver uma parte da cadeia dos alpes suíços e das cidades ao redor do lago de Lucerna. Eles comentavam, com muita razão, que nossos políticos e empresários também têm a oportunidade de viajar para o exterior, também vêem que existem outros patamares de qualidade de vida por aqui, que aqui há limpeza, há ordem, há organização, há segurança, que as escolas e casas não têm muro, que „até as vacas são mais felizes“, como diria meu querido amigo Fernando.

Antes de começar a bater papo com eles, seus comentários me levaram a pensar. É verdade, a classe política e nossa elite realmente vai ao exterior e vê tudo isso, mas por que eles então não levam esses exemplos pra casa? Comecei a pensar na corrupção que assola nosso país, na vontade que muitos têm de faturar a curto prazo, de trabalhar pouco e ganhar muito, de usar de sua “esperteza” e “inteligência”. Tudo em prol de si próprio e não da coletividade. Pensei também na maravilha do nosso clima, na nossa gente amiga e alegre, na nossa musicalidade, na fartura que há nas mesas dos brasileiros, com tantas frutas e legumes deliciosos, na nossa criatividade, na nossa garra, e daí pensei em você, querido torcedor brasileiro!

Toda viagem é capaz de nos transformar por dentro. Nossa realidade é vista com outros olhos, tudo muda depois que passamos por uma experiência que muda nossa perspectiva, nosso patamar, nosso campo de observação. Então, se os políticos e líderes do nosso país teimam em ver que há outras soluções para o país, que há outras formas de vida que podem ser oferecidas para todo o povo brasileiro, e não só dividida entre uma pequena elite que se esbalda em tanta riqueza e tanto desperdício, por que não começar a partir de você, querido torcedor?

Você pode ser veículo para transformações no nosso país. Você pode passar a exigir ainda mais os seus direitos de cidadão e não tolerar qualquer tipo de corrupção, a partir da sua vida particular. Você pode votar em pessoas que realmente querem fazer a diferença e, se se tornar empresário, pode pensar a longo prazo e reconhecer em você um privilegiado que poderá alavancar mudanças e contribuir com sua parcela de responsabilidade social, dando empregos, gerando riquezas, fomentando a economia, levando seu empreendimento ao sucesso particular, mas com isso também global de todos aqueles que atuam junto de você, pensando, por que não, socialmente e a longo prazo. Você pode mudar sua atitude, parar de achar que “tudo é assim mesmo porque sempre foi” e que “não existe mais segurança no nosso país”. Podemos, todos juntos, exercer nossos direitos de cidadãos e exigir mudanças, podemos ter visões, podemos enxergar num futuro próximo um país que dá certo, porque ele tem, já hoje, tudo para dar certo.

Note bem: não estou fazendo um ode à cópia de soluções vindas do exterior, pois temos que encontrar soluções próprias para nossos problemas internos. Tampouco estou pretendendo dizer que no Brasil não há esforço, não há avanço ou gente de caráter. Meu intuito é o de fazer as pessoas, individualmente, se verem co-responsáveis pelo futuro do nosso país, que se constrói a cada dia! Jogar a culpa no “outro” é uma situação altamente confortável.

E, por fim, a pergunta que na realidade iria vir no começo deste texto: o que significa para você viver com qualidade? O que é, na sua opinião, qualidade de vida?


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