
Há um ano atrás o nome de uma alemã e de uma organização de extrema direita ficaram conhecidos da noite para o dia na Alemanha: Beate Zschäpe, parte do grupo NSU (Nationalsozialistischer Untergrund). Ela fazia parte do grupo composto por Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, e juntos viveram escondidos desde 1998 na Alemanha cometendo uma série de mortes e atos neonazistas contra estrangeiros e roubando bancos para se manter e financiar suas atividades. Eles contavam também com a ajuda de poucas pessoas de extrema direita que sabiam do seu paradeiro, e em parte até com a ajuda de alguns integrantes da política e do governo alemão, por não terem p.ex. insistido em buscar pistas que os levasse ao trio desaparecido, de quem tinham conhecimento desde o começo dos anos 90, o que possibilitou que conseguissem passar anos a fio roubando, cometendo crimes de fundo racista e vivendo em segredo no meio da Alemanha.
Ela era responsável no grupo por manter a fachada de normalidade, mantinha os contatos externos, fazia compras, cozinhava, mantinha (ou manteve) um relacionamento amoroso com os dois outros integrantes, cuidava do dinheiro roubado, alugava os carros, interceptava as armas usadas nos crimes e arquivava arquivos relacionados aos assaltos e crimes cometidos. Ironicamente, Beate é filha de um romeno e de uma alemã, e mesmo sem ter razão aparente para tal, seguiu as pegadas de seus namorados e se envolveu com roubos, mortes e terrorismo de forma sistemática durante muitos anos em pleno solo alemão, sem levantar suspeitas. Devido ao fato de que sua mãe ter se casado duas outras vezes, ela teve três sobrenomes enquanto criança/jovem, e continuou esta sina alterando seu nome durante os anos de esconderijo apresentando documentos e firmando contratos como Susann Eminger, Fatma Ülker, Hassan al-Sayedt, Lise Pohl ou Mandy Wuckkk.
O método do grupo era objetivamente sistemático: eles planejavam e matavam estrangeiros nos diferentes estados alemães exatamente por terem conhecimento de que até então não havia um controle central de dados contra neo-nazistas dentro da Alemanha, usando sempre uma mesma arma silenciosa. Alternadamente, roubavam bancos e eram financiados por apoiantes de extrema direita. O método dos roubos contra bancos e dos atos de terror eram sempre cometidos usando bicicletas, que rapidamente eram escondidas dentro de um carro de camping.
No ano passado, entretanto, mais precisamente no dia 04/11/11, após roubar um banco, fugiram para o carro de camping e foram observados enquanto guardavam suas bicicletas dentro do mesmo, estacionado num bairro residencial. Tendo conhecimento de que tinham sido localizados pela polícia, pelo fato de que se serviam da conexão entre os policiais, se mataram antes de ser capturados. Em seguida, a cúmplice Beate Zschäpe colocou fogo no apartamento onde moravam, como forma de eliminar provas dos crimes cometidos, mas ao mesmo tempo fez com que a sociedade tomasse conhecimento de quem era o grupo, tratado por ela de sua “família”: ela enviou um vídeo-documentário, feito de forma profissional e relatando todos os crimes cometidos para jornais, partidos e associações de estrangeiros espalhadas pelo país. Quatro dias mais tarde depois da morte dos seus cúmplices, Beate Zschäpe buscou um advogado e se entregou à polícia no dia 08/11/11, e desde então está presa e permanece calada sob orientação de seus advogados, não tendo dado nenhuma informação que pudesse ajudar a esclarecer os fatos ocorridos.
Apesar disso, rapidamente o governo e a polícia da Alemanha juntaram as peças do quebra-cabeças e perceberam que haviam cometido uma grande injustiça, pois até então as famílias dos estrangeiros mortos tinham invariavelmente sido acusadas de terem contribuído de alguma forma para as mortes ocorridas, quer seja por brigas entre famílias ou falta de pagamento de extorsão de máfias internacionais, ou qualquer outra razão que pudesse parecer evidente e voltasse o centro das investigações para as próprias famílias dos mortos. Todo motivo foi minuciosamente analisado, e em todos os casos, ao todo 9 entre os anos de 2000 e 2006, a possibilidade de que eles tivessem ligação com motivos neo-nazistas foi rapidamente descartada. Na mídia alemã, estas mortes ficaram conhecidas como “Döner Morde”, uma alusão à origem dos mortos, em sua maioria turcos. Esta expressão foi escolhida em janeiro de 2012 como a pior expressão do ano de 2011. Durante o passar dos meses seguintes o governo e a polícia perceberam que até políticos e pessoas do governo, envolvidas na análise dos crimes, tinham culpa no cartório e tinham contribuido para que o real motivo dos crimes ficasse acobertado. Ao perceber este grande erro, a chanceler Angela Merkel pediu desculpas pessoalmente para as famílias integrantes das mortes ocorridas, numa cerimônia oficial do governo alemão no dia 23/02/12.
Além disso, foi montado um sistema central de análise de dados de neo-nazistas e iniciada uma busca minuciosa pelos colaboradores do grupo NSU, também encontradas no partido de extrema direita NPD, que passou a ser duramente criticado, também pelo fato deste existir de forma oficial dentro do país. Um ano depois, no dia 08/11/12, passadas muitas buscas, análises e um trabalho extensivo do governo e da polícia, que reconheceu grandes erros durante o caso e tem agido contra ele, tudo está pronto para julgar Beate Zschäpe, acusada de morte em 10 casos (9 estrangeiros e uma policial) e como co-participante de 15 roubos, junto de Ralf Wohlleben, Holger G., Carsten S. und André E., pessoas que ajudaram o grupo a existir e agir desapercebidametne durante vários anos no meio da Alemanha contra estrangeiros e a favor do terror nazista.
Com este caso, a cara da Alemanha com relação ao neo-nazismo atual no país mudou completamente e as famílias dos mortos poderão respirar aliviadas, tendo esclarecido como ocorreram as mortes de seus entes queridos, o que naturalmente não irá tirar delas o peso dos anos de culpa nem a falta de seus familiares.
Fontes: diferentes artigos da revista Spiegel, dentre eles de 17.01.12, artigo da Wikipedia sobre Beate Zschäpe e artigo da Deutsche Welle de 03.11.12. Veja aqui uma coletânea de artigos da revista Spiegel sobre a Zwickauer Terrorzelle (Célula de Terror de Zwickau), como o grupo é denominado desde então na Alemanha.
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