Archive for março \31\+01:00 2014

::21 anos de Alemanha::

31/03/2014

Fui lembrada pelo Udo Baingo
Que cheguei à maioridade
21 anos de Alemanha
Nem pensava nesta idade!

Tô quase chegando no meio
De duas vidas em uma
23 anos em Beagá
e 21 do lado de cá

Parece até que é mentira
A Mineirinha que um dia sonhou
Em ficar um ano n’Alemanha
Por fim aqui ficou

Hoje sou metade de lá
Outro pedaço de cá
No meio da linha do tempo
Muita história pra contar

Se não me engano
Foi exatamente hoje
Que aqui cheguei sozinha e Deus
Neste mundo pro qual nunca mais disse adeus

Feliz aniversário como estrangeira
E também como brasileira
Além do mais como alemã
Mas acima de tudo como cidadã!

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::Espanha divulga 5 mil sobrenomes que podem ser habilitados a pedir a cidadania espanhola::

29/03/2014

Muito diferentemente dos alemães, que conhecem detalhadamente sua ascendência e conseguem preservar assim sua história mesmo estando fora da Alemanha, muitos de nós, brasileiros, não sabemos ao certo detalhes de nossas origens.

Quanto a mim, quando me perguntam sobre isso, digo que tenho ascendência portuguesa, espanhola, francesa (a avó da minha avó por parte paterna era francesa) e, pela herança dos meus cachos, também africana.
Qual não foi minha surpresa ao ler neste artigo que posso ser descendente de judeus sefarditas, (originários de Portugal e Espanha)! Eles foram expulsos da Península Ibérica durante a inquisição espanhola (1478-1834) e fugiram para várias partes do mundo, dentre elas o norte da África e para o Novo Mundo, principalmente Brasil e México.

O governo da Espanha tem atualmente um projeto que pretende reconhecer os judeus, dando-lhes cidadania espanhola. Se eu não tivesse cidadania alemã, certamente iria verificar esta possibilidade. Afinal, nunca se sabe o dia de amanhã, não é mesmo? Veja se o seu nome também faz parte deste grupo aqui.

Por último, aqui um texto bastante interessante sobre a influência judáica na cultura mineira.

::Viva Hipátia::

28/03/2014

Desde que assisti o filme Ágora virei fã incondicional dela. Leia mais aqui sobre a história da vida da matemática, astrônoma, professora e filósofa Hipátia.

Leia aqui sobre o filme Agora ou Ágora, que conta a história da vida dela com o papel principal ocupado por Rachel Weisz. Vale muito a pena vê-lo!

::A síndrome da volta pra casa::

27/03/2014

Acabo de ler uma reportagem interessante na Folha sobre como se sentem pessoas que voltam pro seu país de origem, indicada por minha amiga Aline. Você sabia que a crise dos países desenvolvidos está levando muitos brasileiros a fazerem as malas de volta para casa? Segundo o Itamaraty, 20% dos que moravam nos EUA e um quarto dos que moravam no Japão já retornaram desde o começo da recessão, em 2008. Leia a matéria completa aqui.

“A adaptação em um país diferente acontece em seis meses, já a readaptação ao país de origem demora dois anos.”
Kyoko Nakagawa

“Um português me disse não querer voltar por saber que Portugal já não estaria lá.”
Caroline Freitas

“Adicionar outros países na balança ajuda a ver que toda cultura tem pontos baixos.”
Marina Motta

Fonte: matéria “Síndrome da volta pra casa” da Folha de São Paulo de 06/03/12.

::Visita ao museu de arqueologia de Constança::

24/03/2014

Taí. Precisei de 16 anos para ir ao museu de arqueologia de Constança e tenho que dizer que adorei a visita! Depois dos primeiros dias lindos de primavera deste ano, este final de semana foi chuvoso e bem frio. Parece que a primavera resolveu dar uma folga e a chuva decidiu cuidar das flores, que já enfeitam toda a região em todas as suas esplêndidas cores e formas. Dada a mudança de temperatura, busquei algo pra fazer com crianças que não dependesse de tempo bom.

Fomos eu, Daniel e dois amiguinhos dele. As crianças foram atraídas por uma exposição toda feita de Playmobil, já que o museu tem sempre uma preocupação de construir cenas históricas e fazê-las visíveis aos olhos dos pequenos. As cenas que vimos hoje foi sobre o Concílio que aconteceu em Constança há 600 anos atrás (1414-18), do qual participaram 70.000 pessoas. Durante o Concílio de Constança, foi escolhido no ano de 1417 o novo Papa Martin V, portanto um acontecimento de repercussão mundial. Do lado da exposição a criançada tinha muito Playmobil e um quebra-cabeça gigante pra brincar. Aqui um link para um vídeo sobre esta exposição.

O museu tem ao todo 4 andares de história. Vimos o que a região onde moramos significou nos séculos passados, quando o Lago de Constança foi importante para as trocas comerciais dos alemães com o resto do mundo, dadas as dificuldades logísticas de antigamente. Nos outros andares vimos também muito da história do povo alemão (Alemannen), que é originário do norte da Alemanha e que povoou o que hoje é conhecido como o estado de Baden-Württemberg aqui na Alemanha. Em Württemberg fica parte do povo alemão conhecido como suebis, aliás na minha opinião os mais parecidos com os mineiros aqui na Alemanha, por serem altamente econômicos como nós. Abaixo um mapa da Europa no século V:

Aprendi que os romanos tinham também tentado ocupar a região do povo alemão (Alemannen ou Alamannen em latim), mas depois de terem tentado entrar no sul da Alemanha e ter até ocupado algumas cidades, eles tiveram que recuar e se limitaram às cidades ao longo do Reno (fronteira da Alemanha com a Suíça e a França). Aprendi também que os arqueólogos conseguiram recuperar grande parte da história do povo alemão através do estudo arqueológico da região, mais intensivo desde os anos 80, e também das descobertas derivadas dos túmulos daquela época, pelo fato distinto de que os cristãos não levavam presentes para o além e do contrário os alemães acreditavam que havia vida após a morte, levando consigo coisas representativas da sua vida terrena (jóias, armas, instrumentos musicais, etc.). Fiquei sabendo que o homens que faziam parte do povo alemão tinha em média 1,72 cm de altura, e as mulheres tinham 1,62 cm de altura, portanto nem tão mais baixos do que a média atual. As casas eram feitas de madeira, barro e tinham que ser refeitas a cada 20 anos em média. Pelo fato do povo alemão ter conseguido expulsar os romanos de suas terras e ter chegado até a tentar conquistar mais território, eles puderam manter seu idioma e sua identidade cultural. Este idioma é a origem dos dialetos alemães de hoje em dia, que vão de um território que abrange o norte da Suíça, norte da Áustria, Lichtenstein, sudoeste da Baviera até grande parte do estado de Baden-Württemberg e mostram que apesar de serem vistos como vários países, trata-se do mesmo povo. A partir do século XIII os romanos passaram a chamar o território teutônico de território alemão, o que deu origem ao nome Alemanha e à denominação do povo alemão no caso das línguas derivadas do latim, como por exemplo no caso do português, espanhol, catalão e francês, mas também para o idioma turco, árabe, curdo e persa.

Tanta coisa para descobrir! Sou super interessada por história, pelos ceutas e pela história de como se formou o povo alemão (reunião dos povos Alemannen, Franken, Friesen, Sachsen, Angeln e Thüringer do mapa acima). Agora fiquei com vontade de aprender mais ainda sobre os temas! E voltar ao museu, quando entender um pouco mais do assunto. Portanto recomendo, pra quem estiver de passagem por Constança, que não cometa o mesmo erro que eu e vá visitar o museu assim que tiver a oportunidade!

Fontes: Museu de Arqueologia de Constança (Archäologisches Landesmuseum) e Wikipedia (Allamanen).

::Quem são os visitantes da Mineirinha?::

23/03/2014

Quem são eles, de onde vêm os visitantes do blog da Mineirinha n’Alemanha? Mate sua curiosidade aqui e agora (estatística de hoje, 23/03/14):

Leitores da Mineirinha

::Tráfico de pessoas – uma lenda urbana real::

23/03/2014

Segue um vídeo indicado pela leitora Margareth:

“Acho que seria bom postar no blog o link deste documentário sobre o tráfico humano, para ficarmos atentos a todas as questões que giram em torno deste assunto. O Brasil é o primeiro país a traficar mulheres e homens.”

Obrigada pela sugestão valiosa, Margareth!

Aqui na Alemanha, a IMBRADIVA faz um trabalho muito bonito, dentre outros de ajuda a brasileiras traficadas para a Alemanha.

::O poder feminino mora no autoconhecimento::

18/03/2014

Aqui mais um texto lindo, profundo e que vale a pena ler, do STUM (Somos Todos Um), de autoria de Heloisa Capelas:

A mulher que conquista mais consciência sobre seus próprios pontos fortes ganha, essencialmente, a oportunidade de utilizá-los em seu favor. Por outro lado, conhece também suas próprias limitações e tem a chance de modificá-las.
Heloísa Capelas

A visão e as habilidades femininas são, hoje, essenciais e indispensáveis à construção de relações e realidades mais positivas nos negócios. Ao assumir com mais segurança esses diferenciais, as mulheres não apenas conquistaram o devido reconhecimento ao seu potencial, como, também, passaram a ocupar cargos de liderança dentro de suas empresas. Prova disso é que diversas pesquisas realizadas no País apontam o constante crescimento no número de mulheres empreendedoras e bem-sucedidas profissionalmente. E, para dar continuidade a esse processo, é importantíssimo que as mulheres desenvolvam, cada vez mais, um novo olhar sobre si mesmas, para que possam reconhecer e se apropriar de suas qualidades.

Numa rápida contextualização, a imagem feminina foi construída de diferentes maneiras ao longo da História. De deusas ou sacerdotisas nas sociedades do mundo antigo, dotadas de poder para influenciar a política, a guerra e o amor, as mulheres passaram a ser consideradas inferiores, tornando-se serviçais e submissas. O processo de revalorização da mulher se deu de forma lenta e trouxe novos paradigmas, em especial com o acúmulo de novas responsabilidades. Além de dedicarem-se às suas carreiras, investirem tempo e dinheiro em especializações múltiplas, elas têm papel preponderante na família e nas questões ligadas à vida pessoal.

Os novos paradigmas trouxeram para algumas mulheres conflitos e dicotomias, mas é justamente quando a mulher se reconhece como um ser único – agregando seus diferenciais no que tange às questões pessoais e profissionais – que seu poder feminino se ressalta. Ou seja, quando valoriza suas qualidades intrínsecas, respeita-as e as direciona para seu crescimento, a mulher tem a oportunidade de equilibrar-se em todas as esferas.

O autoconhecimento é caminho fundamental nesse sentido, pois a maioria das mulheres chega ao século 21 cheia de culpa, medo e uma forte necessidade de provar o seu valor e, por isso mesmo, de atender a expectativas cada vez mais exigentes e exageradas. À mulher ainda não foi ensinado que cabe a ela mesma se apropriar de suas características e de suas possibilidades.

Lembremos, por exemplo, que a capacidade de cuidar é uma habilidade feminina e, por isso, surge espontaneamente e a qualquer tempo. Em outras palavras, o poder da mulher mora também na facilidade de “cuidar”, ou seja, na possibilidade de enxergar além das aparências, antecipar o pedido, perceber as necessidades alheias e atendê-las. O cuidado contém a atenção, capacidade de ouvir, flexibilidade, aceitação e respeito. Veja que cuidar é diferente de “fazer pelo outro”; ressalto porque há muita confusão nesse sentido e, por isso mesmo, até dificuldade de reconhecer essa qualidade.

O cuidado é uma característica determinante à maternidade e, por muito tempo, foi usada exclusivamente nesse sentido. No entanto, esta habilidade mostra-se também eficaz no ambiente corporativo, onde a capacidade de cuidar, quando bem utilizada, gera relações interpessoais mais estáveis, aumenta o comprometimento dos colaboradores e melhora a qualidade do clima organizacional.

O poder feminino está ligado também a muitos outros aspectos e um dos principais retornos do autoconhecimento é poder reconhecê-los. A mulher que conquista mais consciência sobre seus próprios pontos fortes ganha, essencialmente, a oportunidade de utilizá-los a seu favor. Por outro lado, conhece também suas próprias limitações e tem a chance de modificá-las. Ela consegue estabelecer melhor suas prioridades, sem se perder em meio às cobranças e expectativas que ainda lhe são direcionadas. E, por fim, consegue agir de forma mais empreendedora e equilibrada. Tem maior controle sobre suas emoções e as usa com autenticidade para o bem-estar de todos e de si próprio. Consegue enxergar mais soluções e possibilidades quando outros veem o caos.

Há metodologias que podem ajudar a desenvolver o autoconhecimento e, assim, equilibrar as múltiplas inteligências. Por conta da herança cultural que prevalece em nossa sociedade, as mulheres foram muito mais estimuladas a valorizar o intelecto do que a inteligência emocional, por exemplo. Mas vale lembrar que, de forma prática e no dia a dia, ela pode modificar essa realidade investindo em auto-observação e, o que é melhor, fazendo-o de forma franca, sem julgamentos ou justificativas. É um exercício que a auxilia a detectar melhor o que necessita mudar e sobre quais características pode tirar mais proveito, uma vez que obter consciência é o primeiro passo nesse processo.

A auto-observação, tomada como uma lição a ser desempenhada diariamente, traz à tona todas as informações necessárias para que se possa romper com os padrões negativos de comportamento. Ao conhecer tais padrões de perto, é possível compreendê-los e eliminá-los para, então, dar lugar a novos -e mais positivos- tipos de comportamentos. Como resultado, a mulher tem a chance de revolucionar sua realidade em todos os âmbitos.

Sendo assim, fica fácil constatar que cabe à mulher construir sua própria trajetória em direção ao empreendedorismo e à liderança. Evidentemente, esse percurso exige esforço e dedicação. O lado bom é que ela tem milhões de oportunidades de reconhecimento, aceitação, alegria, prazer e direito à felicidade dentro da sociedade contemporânea, que a reconhece como uma profissional ativa, batalhadora e centrada. Em outras palavras, a mulher do século 21 é única, indivisível e incomparável.

Autoria: Heloisa Capelas, texto publicado no Portal do Autoconhecimento STUM “Somos Todos Um”.

::Depoimento de uma portuguesa no abrigo para mulheres na Alemanha – Frauenhaus::

16/03/2014

No dia 11.03.14 fui contactada por uma leitora do blog:

“Sou uma portuguesa a viver na Alemanha e gostaria de lhe dar o meu testemunho da minha vida neste país. Amanhã vou começar a viver num abrigo de mulheres e gostaria de partilhar consigo e com o seu site dado que pouco ou nada encontro na internet sobre testemunhos reais”.

°°
Concordei com a ideia dela e transformei o testemunho em uma entrevista. Vamos a ela:

Por que você quer dividir sua experiência com outras mulheres?

Eu quero escrever para poder guiar as milhares de mulheres que têm receio de dar este passo.

Como foram seus primeiros passos na Alemanha?

Vim para cá e comecei a trabalhar numa empresa de controle de qualidade onde permaneci um ano e meio. Nessa empresa o meu inglês era suficiente. Infelizmente essa empresa fechou e vi-me sem alemão à procura de trabalho. Recebi o seguro-desemprego apenas durante 6 meses.

O que aconteceu durante o tempo em que esteve desempregada?

No decorrer desse período conheci o meu namorado que depois de um mês de namoro me pediu em casamento e como eu aceitei decidimos dar início a uma vida em conjunto. O seguro-desemprego terminou em abril e nós começamos nesse mês a viver juntos. Ele não é alemão mas pertence à União europeia. Trabalhava e continua a trabalhar numa empresa de trabalho temporário (trabalho terceirizado).

O Arbeitsamt (Agentur für Arbeit, depto. de ajuda a desempregados) informou-me entretanto que deixei de obter qualquer tipo d ajuda social e que só poderia reavê-la se encontrasse um Nebenjob (um trabalho além da ajuda social pago por horas, onde o bruto é igual ao salário neto, no máximo 450 euros, chamado de Minijob ou 450,00€-Job). A razão não foi por eu ter meu companheiro a trabalhar mas sim porque disseram que eu tinha necessidade de encontrar esse trabalho para obter novamente ajuda social. Ocorre que sem alemão conseguir arranjar um trabalho foi missão quase impossível.

E como isso influenciou no seu relacionamento com seu marido?

O nosso relacionamento devido a esta situação começou a andar mal. O dinheiro ajuda qualquer relação e nós não o tínhamos. A grande parte do nosso dinheiro ia para o pagamento de aluguel e eletricidade. Os problemas começaram. Descobri que meu companheiro com a aflição de não ter dinheiro começou a jogar em casinos. Ele jogava de forma tão desesperante que gastava e continuava a gastar o que nos restava.

E você conseguiu encontrar um trabalho?

Profissionalmente em setembro encontrei um Nebenjob e assim voltei a receber uma pequeno apoio social, abaixo do valor do Minijob. Comecei a ver uma luz no fim do túnel para meu relacionamento mas logo percebi que nada tinha mudado.

Em dezembro minha chefe me despediu porque alegou que meu alemão não era suficiente. Voltei a viver de ajuda social novamente.

E o que aconteceu no seu relacionamento depois de ficar desempregada pela segunda vez?

Depois de muita briga, com maus tratos físicos e psicológicos, decidi no início de março sair de casa pois sei que ele é viciado em jogo. Talvez já era antes, mas como namoramos pouco tempo não tinha percebido antes.

Comecei então a procurar uma WG (Wohngemeinschaft, um apartamento mobiliado onde cada um tem seu quarto mas divide a sala, cozinha e banheiro – fala-se “WêGê”). Foi assim que percebi que ninguém aluga porque não querem pessoas que vivam de ajuda social. Vi-me à procura de uma luz na internet e foi assim que encontrei o seu site! Frauenhaus (abrigo para mulheres)! Natürlich (claro)!

No começo desta semana visitei a Frauenhaus e contei sobre minha situação. Disseram-me que não tinham vagas mas um dia depois ligaram e disseram que já podia me mudar!

Que bom, e você já começou a estudar alemão?

Sim, desde janeiro deste ano estou fazendo um curso de alemão na AWO (Arbeiterwohlfahrt) apoiado pelo Job Center! Ele vai terminar em julho de 2015. Somos aproximadamente 22 alunos de todos os cantos do mundo: Vietnã, Colômbia, Peru, Itália, Romênia, Bulgária, Marrocos, Kosovo, Grécia, Irã e Turquia. Eu continuo a procura de um emprego, mas sem alemão fica mesmo tudo muito difícil!

E como era para você viver com um viciado em jogos?

Sempre tive muitos problemas com violência doméstica pois meu pai bebia e batia na minha mãe. Aos 19 anos saí de casa pois não aguentava mais ver minha mãe ser maltratada. Saí como saí hoje do meu casamento, somente com minhas roupas e sem um centavo.

Já encontrou uma moral da história pra sua própria história de vida?

Sempre tive bons empregos mas pouca sorte com os homens. Sempre tive queda por homens problemáticos que acabavam quase sempre me traindo.

E quais são as diferenças principais entre Portugal e a Alemanha, na sua opinião?

Portugal vai bem em termos de mentalidade, serviços, tecnologia. Mas agora com a crise os salários caíram pela metade e por isso decidi vir pra cá.
Quanto à burocracia, a única coisa que posso dizer é que tecnologicamente as repartições públicas são mais avançadas. Através de um número o atendente tem acesso a todo o seu histórico e quando alguma coisa modifica, é só inserir os novos dados no computador e pronto.
Aqui neste país tão à frente o processo é tratado como se fosse um novo atendente, como se ele não tivesse nenhuma informação a meu respeito…

(Nota da Mineirinha: a burocracia é proposital para dificultar o processo.)

Quais foram suas primeiras impressões no abrigo de mulheres?

Hoje fui muito bem recebida mas fiquei sabendo que ninguém me ajudará a procurar um apartamento. Eu vou ter que fazer isso sozinha. Meu quarto está equipado, somente necessito da minha roupa. Temos televisão em uma sala, mas não temos internet. É proibida a entrada de homens de mais de 16 anos nas instalações do abrigo e nos jardins que circundam a casa. Isso quer dizer que meu irmão não vai poder vir me visitar aqui.

Como conseguiu encontrar forças para terminar tudo com meu ex-companheiro?

Não sei muito bem! Acho que gosto mais de mim do que dele. Essa é a razão. Quando temos baixa auto-estima é dificil deixar. Sabendo o nosso valor tudo é bem mais fácil. E também porque acredito que um relacionamento tem que ter mais coisas boas do que más e no meu não tinha. Isso quer dizer que não tinha nada bom a que me agarrar.
Por mais mal que uma pessoa esteja, ninguém tem o direito de nos tratar como objeto adquirido. Ninguém pertence a ninguém. Somos todos livres! Ninguém merece nascer de mães escravas! Ninguém quer isso!!

E como vai a procura a um novo emprego?

Fui ao Job Center informar que estava morando no Frauenhaus. Tive dificuldade de explicar o óbvio porque parecia que não me entendiam. Fiquei toda envergonhada e comecei logo a suar de nervoso! Foi difícil tornar claro que acabo de me separar e que agora vivo em um abrigo para mulheres. Todos os documentos que havia preparado há 4 meses não têm mais validade, vou ter que preencher tudo de novo.
Vou receber a partir de agora uma pequena ajuda mensal, abaixo do valor um Minijob, e quando conseguir um apartamento praticamente o valor dobrado se morar dentro da cidade. Fora da cidade o valor é menor.

E o seu ex, já voltou a fazer contato com você?

Sim, ele não pára de me escrever e tenta fazer alguma chantagem psicológica…. Não me toca minimamente porque me lembro de quantas lágrimas eu já derramei sem ter o mínimo apoio dele.

E o que você gostaria de deixar aqui como dica para outras portuguesas e mulheres em geral de língua portuguesa que pensam em vir tentar a vida na Alemanha?

Aconselho às mulheres a virem preparadas para encontrar muitas dificuldades se vêm sem alemão. Sugiro que tragam uma boa quantidade de dinheiro para pagar o aluguel e as despesas básicas nos primeiros meses. Se vierem para viver com familiares, que se preparem, porque isso tende a não funcionar.
Aconselho às mulheres a nunca se inibirem de dar sua opinião por mais contraditória que seja. Vivemos em sociedade livre!

::Processo judicial contra o presidente do Bayern de Munique, Uli Hoeneß::

13/03/2014

No momento o presidente do time Bayern de Munique está sendo julgado por ter sonegado impostos. Antes do julgamento a opinião pública sabia que ele tinha enviado uma carta para o Leão alemão (Finanzamt). Isso aconteceu logo depois de ter sido avisado por parte de seu banco na Suíça de que um repórter de uma grande revista alemã estava pesquisando sobre a sonegação de impostos de um grande nome do esporte da Baviera. Todos ficaram sabendo então que aquele que tinha um lugar tão importante na sociedade alemã, que doava bastante dinheiro para organizações sociais e que era conhecido como alguém respeitado e admirado, sonegava impostos e era viciado por jogos na Bolsa de Valores. Durante a primeira metade do ano de 2013 mais de 8.000 pessoas resolveram se entregar ao Leão alemão, mais do que durante todo o ano interior, o que ficou conhecido na Alemanha como “efeito Hoeneß”.

A grande pergunta no momento é se o fato dele ter enviado a tal carta o aliviará da prisão iminente de até 10 anos. O processo começou esta semana e nesse meio tempo a opinião pública já tomou conhecimento do valor exato que Hoeneß deve: 27,2 milhões de euros. Agora mesmo estou assistindo um programa de televisão que discute sobre o caso e que enumerou o que significa este valor:
– equivalente ao pagamento anual de impostos de aproximadamente 3.500 pessoas na Alemanha
– com este dinheiro, 782 idosos poderiam ser cuidados durante um ano ou poderiam ser construídos 5 asilos
– outra opção seria que 2.600 crianças tivessem um lugar no jardim de infância ou que 27 jardins de infância fossem construídos.
– por último, cita-se que com o dinheiro poderia ser construída uma prisão.

Depois da primeira carta, Hoeneß enviou uma nova carta para detalhar seu delito. Alguns dizem que pelo fato da primeira carta não ter sido completa, que não deveria ser considerada como um ato de auto-denúncia.
O certo é que o fato de um peixão como o Hoeneß estar prestes da prisão faz todos pensarem sobre a necessidade de uma pessoa já rica que não consegue controlar sua cobiça, não consegue parar de querer ganhar e ter cada vez mais poder, e com isso se acostuma com o fato de que está agindo fora da lei e passa a achar tudo normal.

Até o final da semana todos saberão o destino de Hoeneß. O programa de TV de hoje à noite está chegando ao fim e foi feita uma enquete perguntando se uma pessoa que se auto-denuncia deveria poder se livrar da prisão: 74% das pessoas disseram que todos que sonegam impostos e se entregam para o Leão deveriam sim ir para a prisão. Gostei. Moral da história? A grande maioria dos alemães pensa que todos são iguais perante a lei. Os que são de outra opinião são loucos por futebol, acham que o Hoeneß não errou tanto assim porque é um bom homem público, um santo do futebol.

Fontes: Stern TV e Wikipedia.de

Nota de 15/03/15: Uli Hoeneß foi condenado no prazo de 4 dias de processo a 3,5 anos de prisão e anunciou um dia mais tarde que se retiraria da direção de todos os cargos públicos e que não iria apelar para a revisão da sentença. Dentro de alguns dias ele deverá ser contactado pela Justiça para se apresentar na prisão, com o fim de iniciar o pagamento de sua pena. Um bom artigo sobre o caso aqui.


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