Estar de volta ao Brasil é sempre um exercício interessante… Tantas cores conhecidas! Tantas pessoas amadas, a uma distância mínima de um simples abraço! A magia do momento se instala sobre mim.
Como me sinto no Brasil? São sempre um turbilhão de emoções. Sinto-me muito grata por ter minha família por perto, por receber tanto carinho que nem sei se me é de direito, por poder rever meus amigos, por poder dar tantas gargalhadas e bater tantos papos legais. Estar um pouco menos online por causa do Wi-Fi nem sempre acessível faz, no final das contas, muito bem.
Vejo o verde da natureza e o vermelho da terra de Minas e me sinto em casa, do outro lado do mundo, mesmo tendo um canto onde também chamo de minha casa. Falo e canto o português e constato que este é o idioma onde sempre vou me sentir melhor, mais solta, mais segura, mesmo que morre até o fim da minha vida do outro lado do mundo. Posso mostrar para os meus filhos de onde vim, e relembrar tantas passagens de minha vida ao lado de minha família. Olhar fotos, relembar momentos especias. Temos um novo escritor na família! Meu tio Miranda lançou suas memórias, que são uma delícia de ler e nos acompanharam durante nossa viagem de Minas ao Espírito Santo.
Agora mesmo está um pouco frio e anda chovendo também, mas a temperatura não me importa, na realidade. Quero ver tudo o que posso ver, provar todos os sabores que posso provar, registrar o máximo de memórias que meu coração deixar. Estou aqui e agora e gosto muito disso.
As notícias do Brasil atual, infelizmente, são um tanto quanto preocupantes. O custo de vida bate, em muito, o da Alemanha. Continuo não entendendo como é possível viver com uma família por aqui. A população está muito endividada. Os imóveis se valorizaram tanto nos últimos anos, que tudo parece uma bolha imobiliária, feito a que estourou nos EUA em 2009. Os carros entupiram as cidades e as montadoras já têm problemas para se desvencilhar dos carros novos, que não têm muita saída no momento. Não chove na região sudeste e já começam a falar do racionamento da água. O país está prestes a escolher seu novo presidente, sendo que Marina ganhou 13 pontos nas pesquisas nos últimos 11 dias e poderia hoje ganhar de Dilma, e o Brasil se encontra numa recessão técnica, já que o PIB teve crescimento negativo nos primeiros dois trimestres do ano. Todos afirmam que assim que as eleições se passarem tanto a gasolina quanto a energia vão subir, levando consigo todos os outros preços para o alto e contribuindo para o aumento da inflação.
A Marina, ambientalista, afirma ser a favor das usinas nucleares. Não consigo entender como um país dotado de sol o ano inteiro e muitas praias continua não apostando em investir em energias limpas tais como a solar, eólica e a retirada das ondas do mar. Hoje aprendi que um empregador paga, em média, 2,1 salários brutos mensais para honrar todas as contribuições sociais, enquanto o valor pago na Alemanha é de 1,2 salários brutos. O desconto do empregado, por outro lado, é bem menor aqui, mas o cidadão vê somente os descontos e não enxerga onde os mesmos foram investidos em prol da comunidade.
Eu, da minha parte, continuo acreditando firmemente no futuro do Brasil. Em 20 anos fomos capazes de tirar 40 milhões do nível de pobreza, enquanto a Europa perdia a mesma quantidade de cidadãos para este patamar. Pagamos nossa dívida externa. Passamos a ser a 7ª. maior economia mundial. Temos cabeças pensantes, temos investido em bons programas como o Ciência sem Fronteiras, aumentando nossa troca de conhecimento em vários campos importantes para o desenvolvimento do país.
Vejo que é importante parar com este pensamento de curto prazo, de achar que a ganância justifica qualquer decisão. Vejo a importância de não desistir de alavancar este país, da contribuição pessoal de cada cidadão, da parcela de importância que cada um leva consigo, mesmo estando prestes à escolha do novo líder do país.
Continuo amando meu país e minhas raízes e desejando, da próxima vez que eu esteja aqui, que a moeda tenha se valorizado mais e que 2 reais possam comprar um euro como na época do lançamento do meu livro, no final de 2008. Por isso não altero o valor do mesmo. Ele continua custando 15,50 euros na Alemanha e 30 reais no Brasil. Aliás, já posso reabrir as vendas na Europa, pois em duas semanas estarei de volta e poderei enviar os livros pedidos até lá.
Estou inspirada! Estou com o projeto de dois novos livros, acabo de escrever algumas linhas em um deles. Assim, levo os ares do Brasil e da Alemanha neles, fecho o ciclo e tiro desta experiência algo para mim e para meus leitores.