Archive for novembro \12\+01:00 2014

::A Alemanha é o país mais popular do mundo::

12/11/2014

Pela segunda vez consecutiva a Alemanha deixou os EUA para trás e foi escolhida como o país mais popular do mundo. A pesquisa, feita pela empresa GfK (Gesellschaft für Konsumforschung), foi feita envolvendo 50 países, a opinião de 20.000 pessoas de 20 países desenvolvidos e em desenvolvimento. Além do sucesso no futebol, a Alemanha ganha pontos nos quesito “governo competente e honesto”. Nos quesitos “clima de investimento” e “igualdade social” a Alemanha atingiu os pontos máximos existentes nesta pesquisa. Outros fatores que contaram pontos para a Alemanha foram o sucesso no futebol, a liderança política na Europa, a responsabilidade política reconhecida internacionalmente e a economia forte do país.

Os 10 primeiros lugares na pesquisa foram ocupados pelos seguintes países: Alemanha, USA, Inglaterra, França, Canadá, Japão, Itália, Suíça, Austrália e Suécia.

Leia aqui neste artigo mais alguns pontos positivos da Alemanha, quando comparada ao Brasil. Eu só não concordo com o seguinte: acho que brasileiros são persistentes, flexíveis e demonstram constantemente ser capazes de se reerguer. Esta é uma característica nossa que pode sim contribuir positivamente para alavancar nossa economia, dentre tantos outros fatores pelos quais temos que trabalhar de forma bem árdua. Mas a proposta do artigo continua valendo, e muito, como citou a autora nos comentários: serve de inspiração para nosso crescimento.

Fonte: artigo da revista Stern de 12/11/14, artigo da Folha de São Paulo de 09/07/14.

::Os ipês-amarelos – Rubem Alves::

08/11/2014

O Rubem Alves resume o ato da escrita de forma linda, perfeita e encantadora: “Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.” Leia abaixo o texto completo, lindo, lindo…:

Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: “E quem é Rubem Alves?”. Um menininho respondeu: “O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos…”. A resposta do menininho me deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.

Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores… Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão…), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme “Moça com Brinco de Pérola”), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.

Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.

Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: “Rosa de água com escamas de cristal…”.

Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.

Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.

Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.

Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui… Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos.

::25 anos da queda do muro de Berlim::

05/11/2014

No próximo domingo, dia 09.11.14, comemora-se os 25 anos da queda do muro de Berlim na Alemanha, a derrocada do marco da Guerra Fria e da separação dos sistemas socialista e capitalista. O muro de Berlim era uma parte da divisão extensa que existia naquela época entre o oriente e o ocidente, já que o país inteiro estava dividido entre os dois sistemas. Para entender como era a Alemanha dividida, veja este infográfico da Folha de São Paulo de 02.11.14.

O muro existiu durante 28 anos, entre 1961 e 1989. De um dia para o outro foi iniciada a divisão de um país, dois sistemas, várias famílias. Mais de 1.000 km de muro e mais de 3.000 policiais cuidavam para que ninguém conseguisse passar do lado oriental para o ocidental, ninguém saía, ninguém entrava. Haviam minas no chão que representavam uma dificuldade extra para aqueles que tentassem fugir. Os soldados tinham licença para atirar se alguém fosse identificado como fugitivo. Só com a licença do governo era possível conseguir um visto para sair temporariamente da Alemanha Oriental, em situações especiais como p.ex. no caso de atletas, pessoas de destaque ou com visto para visita de familiares.

Assisti hoje na TV um programa através do qual alemães orientais comentavam parte do que viam de mais diferente do lado de lá e de cá:
– no oriente reinava o controle e a censura, no ocidente a liberdade;
– no oriente o mundo era cinza, no ocidente abria-se um leque de cores, a vida passava a ser colorida;
– no oriente haviam poucos produtos, pouca oferta. A ida ao supermercado do lado ocidental, depois da queda do muro, foi um marco para eles pela variedade e pela oferta existente.

Nem tudo era ruim do lado oriental. Muitos comentam que havia mais solidariedade entre as pessoas do lado oriental, as alemãas orientais faziam mais parte da mão-de-obra do país sem muita discussão ou pressão da sociedade, as creches eram mais comuns. Com o passar dos anos, hoje em dia esta diferença anteriormente notada entre oriente e ocidente tem diminuído, já que a mulher na Alemanha tem aumentado sua presença no mercado de trabalho, ao mesmo tempo que o governo busca aumentar a oferta de jardins de infância e creches, principalmente a partir de 2 anos de idade.

Muitos tentaram fugir durante os anos de repressão. Uma das visitas que mais me marcaram foi ir a Berlim, ver parte do muro, através do qual uma cidade inteira, localizada geograficamente dentro da Alemanha oriental, era dividida entre os setors socialista e o capitalista e ter tido a oportunidade de visitar o museu do Checkpoint Charlie, onde várias formas criativas e curiosas de fuga, feitas com sucesso por várias centenas de alemães orientais que conseguiram atravessar o muro de Berlim em ser mortos.

1989 foi o marco do fim do muro e do começo do fim da divisão de um país, que foi oficialmente reunificado em 03.10.90. Várias famílias antes divididas por forças políticas podiam se reencontrar, pessoas que tinham fugido da ex-Alemanha Oriental ou tinham sido divididas pelo muro puderam finalmente e inesperadamente rever seus familiares (ao fugir elas assumiram que nunca mais as veriam), pessoas dois dois lados da Alemanha, que nunca tinham se visto antes festejaram, se abraçaram e se reconheceram como um só povo. Muitos achavam que iriam morrer sem ver uma Alemanha reunificada, que foi reconquistada sem guerra, sem tiros, de forma totalmente pacífica, ainda que não de forma voluntária, forçada pela pressão política, resultado da grande pressão popular, marco do fim de uma era histórica.

Em 1991, vim à Alemanha pela primeira vez. A internet só começou a se expandir depois de 1993, quando eu já morava aqui. Antes dela, a comunicação a longa distância se fazia possível por telefone, fax e telex (foto abaixo). Naqueles primeiros anos depois da queda do muro vi os primeiros Trabants, os carrinhos da Alemanha oriental, fiquei sabendo um pouco mais sobre “Ossis” e “Wessis” e conheci alguns estudantes de lá, do outro lado do país.

Por muitos e muitos anos o muro continuou na cabeça das pessoas, para alguns o muro ainda continua a existir. Este ano li uma nova maneira de enxergar o muro ou a divisão que rege na cabeça das pessoas, a minha inclusive, em muitos pontos ainda: a divisão criada ao se falar sobre “nós” e “eles”, o fato de várias pessoas se reconhecerem como parte de um grupo, e reconhecerem outros como aqueles que não participam do seu grupo, seja lá qual ele for. Que o muro imaginário possa cair em nossas cabeças, cada dia um pouquinho mais. Que um sistema político misto, entre o capitalismo selvagem e o neo-socialismo, possa surgir e superar o capitalismo, mantendo a democracia e a liberdade de expressão.

Fontes: Wikipedia, Folha de São Paulo de 02.11.14, reportagem da TV alemã (canal Bayern) de 04.11.14.

::9° Book Crossing Blogueiro::

02/11/2014

Como há muitos anos, participo este ano também do Book Crossing Blogueiro, planejado pela Luma do blog Luz de Luma, yes party!. Fico agradecida pelo convite! Como a Luma mesma diz, e muito bem, um livro pode ser a bússola que alguém precisa para encontrar o melhor caminho. Espalhe livros e melhore o caminho dos outros também. Participe, mesmo que ninguém fique sabendo. Como? Leia aqui.

Eu gosto sempre de libertar livros em português, o que nem sempre é fácil por morar fora do Brasil. Portanto, vou participar libertando um livro a partir da próxima pessoa que adqurir meu livro aqui na Alemanha. Quem será ela? 😉

Se quiser participar também, aqui está o exemplo de bilhete para ser deixado junto do livro a ser libertado:

P.S. em 08.11.14: O livro vai para Raquel Nunes (comentário nos “contatos” de 07.11.14). Através dela ele vai começar sua viagem. 😉

::Saldo de dois shows – Gilberto Gil & Ed Motta::

02/11/2014

Ir a um show de um artista brasileiro no exterior tem um significado diferente do que teria se estivéssemos ainda no Brasil. É um misto de voltar às origens, encontrar pessoas que falam a nossa língua, que potencialmente vão cantar as mesmas músicas que queremos cantar, é uma oportunidade para rever amigos e, quem sabe, fazer novos. De qualquer maneira, é um momento de lazer, misturado a um momento de instropecção, de encontro conosco mesmo. É um momento onde achamos que estamos meio em casa, apesar de tão longe. Entramos numa bolha imaginária e queremos…. cantar, dar asas à nossa alma.

Nem sempre isso é possível – ainda mais se formos a um show em Zurique, que ainda que possa ser um pouco estranho, é a maior cidade europeia mais próxima da minha casa, que moro no extremo sul da Alemanha. No show do Gilberto Gil, por exemplo, que ganhei de presente das minhas amigas brasileiras aqui de perto de casa (mais uma vez: obrigada!), o público foi selecionado pelo preço das entradas. E com esta seleção, vieram as exigências do mesmo. Aqueles que pagaram caro para assistir de perto uma lenda da música brasileira, estavam sentados, bem de frente ao cantor. Muitos deles eram casais bi-nacionais, eram praticamente uma mistura de 50% de brasileiros e 50% de suíços. Resultado: os suíços que pagaram caro para assistir o show de pertinho ficavam reclamando o tempo todo dos brasileiros, chamando a atenção deles, pedindo que se calassem para que eles pudessem apreciar a arte do cantor… enquanto o Gilberto Gil pedia participação, esperava que o público cantasse com ele… Foi assim o tempo todo. O lado bom foi que eu estava no meio da galera em pé e, pelo menos onde eu estava, eu podia cantar. E cantei… O Gilberto Gil parecia um velhinho feliz, com um sorrisão estampado no rosto, um violão na mão e a certeza de que não devia nada a ninguém. E cantou… e maravilhou o público. Cantou velhos sucessos e apresentou alguns novos. A maioria deles, claro, em português, falando um bom inglês para se comunicar com o público. “Rio, rio, rio, rio e choro, choro e rio…

Ontem foi o show do Ed Motta, também em Zurique. O público era jovem e parecia querer dançar. Ninguém estava lá para “podar” ninguém. Eu, da minha parte, fui pra lá com duas músicas fixas dele na minha cabeça. Queria ouvir e cantar, por exemplo “Manuel”, sucesso antigo, mas mais atual do que nunca… “Se eu fosse americano/um político minha vida não seria assim, hé, hé…” Sabia que o Ed Motta tem uma coleção de 30.000 discos em sua casa, que sua influência é de muita música estrangeira, de grandes nomes do jazz, pop e soul internacional, tinha ouvido o último CD dele e notado que ele estava cantando muito em inglês, mas acreditei que ele saberia dividir a atenção do público entre sua nova e antiga arte, misturando músicas em inglês com português. Errei: ele quase só cantou em inglês. ..Cantou muito bem – diga-se de pasagem, com aquele vozeirão inacreditável, aquela dádiva de Deus – e interagiu muito bem com o público, trouxe excelentes artistas consigo (que não puderam mostrar seu potencial porque a baixa qualidade da aparelhagem do som não deixou), fez uma sessão de beat box linda, mas cantou quase que 100% só em inglês. Cantou música dele, cantou música de Deus e o povo. Mas deixou seus próprios sucessos em português de lado. O show foi chegando ao fim e as minhas esperanças também, junto dele.

No final do show, realizei que teria mesmo que voltar pra casa e buscar em vídeos do YouTube as músicas que queria tanto ter ouvido ao vivo, pensei que eu tinha ficado na linha do tempo, que a arte dele tinha avançado, enquanto eu conhecia e queria ter ouvido os sucesssos antigos dele. Comentei com minha amiga, a Chris, com quem tinha ido ao show, e ela não me deu razão. Seu argumento foi que se ele cantou sucessos antigos americanos, de 20-30 anos atrás, por que não haveria de poder cantar seus próprios sucessos em português? E sabe que ela tinha razão?!? Bom,a turné dele ainda não acabou na Europa. Espero que ele cante alguns de seus sucessos por aí!… Pra mim, fiquei com uma admiração ainda maior pelo artista, mas saí dali de Zurique com um gostinho de quero mais. Quero mesmo é poder ir a um show de um artista brasileiro no exterior e comungar com outros e comigo mesma minha cultura.

No Facebook do artista, achei um pouco uma explicação para tanto inglês (também no show): “Eu publico em inglês porque estou numa tour entre USA e Europa. Tirando Portugal ninguém fala português… Preciso me comunicar com um número maior de pessoas. O inglês é língua universal, o mundo inteiro fala ou se esforça. O Brasil não se esforça para nada fora da zona de comforto. Eu só leio em inglês, não leio NENHUMA publicação brasileira faz muitos e muitos anos. Eu sonho em inglês etc. O mundo como conhecemos fala inglês.” Post de 01.11.14, Record Collector Magazine

Com vocês, Ed Motta:


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