::25 anos da queda do muro de Berlim::

No próximo domingo, dia 09.11.14, comemora-se os 25 anos da queda do muro de Berlim na Alemanha, a derrocada do marco da Guerra Fria e da separação dos sistemas socialista e capitalista. O muro de Berlim era uma parte da divisão extensa que existia naquela época entre o oriente e o ocidente, já que o país inteiro estava dividido entre os dois sistemas. Para entender como era a Alemanha dividida, veja este infográfico da Folha de São Paulo de 02.11.14.

O muro existiu durante 28 anos, entre 1961 e 1989. De um dia para o outro foi iniciada a divisão de um país, dois sistemas, várias famílias. Mais de 1.000 km de muro e mais de 3.000 policiais cuidavam para que ninguém conseguisse passar do lado oriental para o ocidental, ninguém saía, ninguém entrava. Haviam minas no chão que representavam uma dificuldade extra para aqueles que tentassem fugir. Os soldados tinham licença para atirar se alguém fosse identificado como fugitivo. Só com a licença do governo era possível conseguir um visto para sair temporariamente da Alemanha Oriental, em situações especiais como p.ex. no caso de atletas, pessoas de destaque ou com visto para visita de familiares.

Assisti hoje na TV um programa através do qual alemães orientais comentavam parte do que viam de mais diferente do lado de lá e de cá:
– no oriente reinava o controle e a censura, no ocidente a liberdade;
– no oriente o mundo era cinza, no ocidente abria-se um leque de cores, a vida passava a ser colorida;
– no oriente haviam poucos produtos, pouca oferta. A ida ao supermercado do lado ocidental, depois da queda do muro, foi um marco para eles pela variedade e pela oferta existente.

Nem tudo era ruim do lado oriental. Muitos comentam que havia mais solidariedade entre as pessoas do lado oriental, as alemãas orientais faziam mais parte da mão-de-obra do país sem muita discussão ou pressão da sociedade, as creches eram mais comuns. Com o passar dos anos, hoje em dia esta diferença anteriormente notada entre oriente e ocidente tem diminuído, já que a mulher na Alemanha tem aumentado sua presença no mercado de trabalho, ao mesmo tempo que o governo busca aumentar a oferta de jardins de infância e creches, principalmente a partir de 2 anos de idade.

Muitos tentaram fugir durante os anos de repressão. Uma das visitas que mais me marcaram foi ir a Berlim, ver parte do muro, através do qual uma cidade inteira, localizada geograficamente dentro da Alemanha oriental, era dividida entre os setors socialista e o capitalista e ter tido a oportunidade de visitar o museu do Checkpoint Charlie, onde várias formas criativas e curiosas de fuga, feitas com sucesso por várias centenas de alemães orientais que conseguiram atravessar o muro de Berlim em ser mortos.

1989 foi o marco do fim do muro e do começo do fim da divisão de um país, que foi oficialmente reunificado em 03.10.90. Várias famílias antes divididas por forças políticas podiam se reencontrar, pessoas que tinham fugido da ex-Alemanha Oriental ou tinham sido divididas pelo muro puderam finalmente e inesperadamente rever seus familiares (ao fugir elas assumiram que nunca mais as veriam), pessoas dois dois lados da Alemanha, que nunca tinham se visto antes festejaram, se abraçaram e se reconheceram como um só povo. Muitos achavam que iriam morrer sem ver uma Alemanha reunificada, que foi reconquistada sem guerra, sem tiros, de forma totalmente pacífica, ainda que não de forma voluntária, forçada pela pressão política, resultado da grande pressão popular, marco do fim de uma era histórica.

Em 1991, vim à Alemanha pela primeira vez. A internet só começou a se expandir depois de 1993, quando eu já morava aqui. Antes dela, a comunicação a longa distância se fazia possível por telefone, fax e telex (foto abaixo). Naqueles primeiros anos depois da queda do muro vi os primeiros Trabants, os carrinhos da Alemanha oriental, fiquei sabendo um pouco mais sobre “Ossis” e “Wessis” e conheci alguns estudantes de lá, do outro lado do país.

Por muitos e muitos anos o muro continuou na cabeça das pessoas, para alguns o muro ainda continua a existir. Este ano li uma nova maneira de enxergar o muro ou a divisão que rege na cabeça das pessoas, a minha inclusive, em muitos pontos ainda: a divisão criada ao se falar sobre “nós” e “eles”, o fato de várias pessoas se reconhecerem como parte de um grupo, e reconhecerem outros como aqueles que não participam do seu grupo, seja lá qual ele for. Que o muro imaginário possa cair em nossas cabeças, cada dia um pouquinho mais. Que um sistema político misto, entre o capitalismo selvagem e o neo-socialismo, possa surgir e superar o capitalismo, mantendo a democracia e a liberdade de expressão.

Fontes: Wikipedia, Folha de São Paulo de 02.11.14, reportagem da TV alemã (canal Bayern) de 04.11.14.

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