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::Sinais, refugiados & poemas::

11/09/2015

Talvez estejam se perguntando o que um tema tem a ver com o outro?!? Pasmem: acreditem ou não, por um grande acaso do universo, reencontrei o anjo sobre o qual comentei no meu livro Mineirinha n’Alemanha, bem no finalzinho, que salvou meu filho depois de uma parada respiratória. Fui até o meu anjo feminino e disse que a conhecia, mas não lembrava bem de onde… Ela disse que tinha sido a pessoa que me ajudou, quando meu fiho parou de respirar… Eu a abraçei imediatamente! Disse que mantenho minha promessa até hoje, pois continuo sendo socorrista. E disse que aquela história, naturalmente, me marcou muito, porque eu só a vi em minha vida no dia que ela me ajudou, um dia depois para poder agradecê-la pela ajuda, e depois nunca mais voltei a vê-la. Acreditem se quiser, isso aconteceu quando o Daniel tinha uns 3 anos, e fiquei sabendo essa semana que ela mora no meu bairro, mas nunca mais tínhamos nos visto novamente. Conversamos um pouco, eu disse que acredito firmemente em sinais e que semana passada recebi um grande sinal, pelo que estava pedindo e orando muito, com a ajuda dos meus amigos e familiares. E sei que ela foi um sinal para mim, um anjo no lugar certo e na hora certa, que salvou meu filho, pelo que sou muitíssimo agradecida! E que lugar teria sido mais propício e mais simbólico para esse reencontro que não em um curso de meditação budista? 🙂 Eu disse pra ela que hoje o Daniel é um menino enorme, quase do meu tamanho, com ótimas notas e muito inteligente. E que eu sei que naquele dia fatídico tínhamos só dois minutos para reagir depois da parada cardíaca, e não posso parar de agradecer a ela e ao universo por essa dádiva. Ela comentou sobre a filha dela, começamos a falar da volta às aulas na semana que vem. Mais uma coincidência: a filha dela é da mesma idade do Daniel e vai estudar na mesma escola, porém em uma classe paralela à dele. Vamos nos rever a partir de agora várias vezes! Que grande presente do universo!…

Vira e mexe vejo vídeos e leio mais artigos sobre a atual crise de imigração. Existem no momento ao todo 50 milhões de pessoas no mundo envolvidas em movimentos migratórios! Este é o maior número desde a 2ª. Guerra Mundial!

Dos refugidados da Síria, até o final de janeiro de 2015, somente 4% tinham vindo para a Europa. Em termos relativos, se comparado ao tamanho da população de cada país, os países que mais recebem refugiados em 2013 foram a Suécia, a Áustria e a Hungria. Está provado que os imigrantes podem ser uma força propulsora para as economias locais. No caso da Alemanha, em 2012 os estrangeiros contribuíram em em média com 3.300 euros de impostos e contribuições sociais, ainda levando em conta o que havia sido gasto com a ajuda ao imigrante. Conclusão: eles geram mais recursos do que custam, a contrário do que todo mundo pensa. Esses dados aqui são muito valiosos, claro que terão que ser atualizados com as mudanças atuais, mas devem ser mostrados a todos aqueles que têm muito preconceito e receio com relação aos refugiados. Tinha lido também que dos asilados, 15% tem ginásio completo e outros 15% tem um curso superior, o que vale ouro para um país feito a Alemanha que precisa urgente de mão de obra qualificada em várias áreas de conhecimento. Segundo uma pesquisa atual 18% da população alemã já ajudou diretamente os refugiados, outros 23% pretendem prestar ajuda concreta dentro em breve.

Outra comparação: o Obama anunciou ontem que vai receber 10.000 refugiados no próximo ano, depois de ter sido fortemente criticado nos últimos dias. A estimativa é de que a Alemanha estará recebendo este ano 800.000 refugiados (o maior número de pedidos de asilo tinha sio até agora em 1992, de aproximadamente 440.000). Comparado a população da Alemanha com a dos EUA, ele teria que receber 3,2 milhões de refugiados, o que daria aproximadamente 10.000 pessoas, mas por dia.

Tenho escrito muitos poemas no momento. São tantos, que estou até pensando em lançar um livrinho só com poesias e pensamentos, sinais que ando recebendo nos últimos meses. Fecho o post de hoje com um poema, aquele que usei como fechamento do meu livro Mineirinha n’Alemanha, que não poderia ser mais atual para os dias de hoje (tradução para o português logo abaixo). Bom final de semana para todos! Agora que o sol está nos deixando, chegamos novamente à fase introspectiva do ano, hora de fazer altas viagens mentais. Bons pensamentos!

Wir sind alle Ausländer – Somos todos estrangeiros


Wir sind alle Ausländer
Heute ich
Weit weg von zu Hause
Nehme eine andere Kultur an
Wohne,
Bewege mich,
Esse,
Trinke:
Alles ist anders.

Morgen DU
Kannst eine andere Kultur annehmen
Aus eigener Entscheidung oder unfreiwillig
Dann wirst DU
Wohnen,
Dich bewegen,
Essen,
Trinken:
Alles wird anders sein.

Wir sind alle Ausländer
Heute ich, gestern ein anderer, morgen du, vielleicht:
Bürger dieser Welt.

°°°

Hoje EU
Muito longe de casa
Abraço outra cultura
Vivo,
Me movimento,
Como,
Bebo:
Tudo é diferente.

Amanhã VOCÊ
Pode abraçar outra cultura
Por decisão própria ou por falta de escolha
Então você irá
Viver,
Se movimentar,
Comer,
Beber:
Tudo vai ser diferente.

Somos todos estrangeiros
Hoje eu, ontem outro, amanhã você, talvez:
Cidadãos deste mundo

Fontes: Handelsblatt Morning Brief de 11.09.15, artigos do jornal Süddeutsche ZeitungFakten gegen Vorurteile” (Fatos contra o Preconceito) de 21.01.15 e “Was hinter der Bereitschaft der Deutschen Steckt” (O que está atrás da solidariedade dos alemães) de 11.09.15.

::#WelcomeChallenge – Onda de Solidariedade para com Refugiados na Alemanha::

07/09/2015


Ainda estou processando os fatos dos últimos dias. Já chorei algumas vezes, ao ver os vídeos dos alemães dando boas-vindas aos refugiados que têm chegado aos montes na Alemanha.

Sim, o preconceito racial continua existindo na Alemanha. Sim, o mundo continua sendo da opinião de que existem pessoas melhores e piores, dependendo de seu passaporte e da língua que falam. Sim, os nazistam continuam por aí. Mas há esperanças, há grandes esperanças. Enquanto nos noticiários surgem reportagens de casas (de refugiados ou de pessoas que apóiam os refugiados) que foram incendiadas propositalmente, nos últimos dias os noticiários e as manchetes que predominam na Alemanha são os da solidariedade do povo alemão direcionados aos refugiados, recebendo-os nas estações de trem, dando-lhes comida, bebida, bichinhos de pelúcia para as crianças, aplaudindo sua chegada… É muito emocionante! Ainda mais para mim, que cheguei aqui em 1993, exatamente na época em praticamente não se via (mas certamente existia) solidariedade direcionada aos que chegavam e na realidade era bem mais comum ouvir notícias de incêndio das moradias de asilados… O incêndio de Solingen, por exemplo, marcou a história do país, e tornou-se símbolo daquela época, quando um pequeno grupo de alemães, bêbados, depois de terem sido expulsos de uma festa, foram para a frente da casa de uma família turca, colocaram fogo nela e mataram, ao todo, cinco pessoas, deixando 17 pessoas feridas. Lembro-me que os membros da AIESEC, com quem eu convivia, usava naquela época, como sinal de protesto, camisetas com o nome de todas as cidades onde incêndios daquele tipo tinham acontecido naqueles anos fatídicos… Meu marido disse que naquela época a Alemanha era tão preconceituosa que até ele, que tinha morado no exterior e voltou a morar em seu país natal, sentia o preconceito com relação a ele mesmo, por não ter crescido aqui, não ter nascido na região onde morava. Alguns amigos me contaram que os jovens dos bairros da região onde moro tinham muita rixa uns com os outros naquela época, muitos não se misturavam e não se aceitavam. E vejam bem, isso tudo aconteceu há pouco mais de 20 anos atrás!…

Desde então a Alemanha mudou de cara – e de alma. O país se internacionalizou. O inglês virou o segundo idioma mais falado. Em 1993 já andei quilômetros e quilômetros em Frankfurt procurando UMA pessoa que falasse inglês!… Os jovens crescem agora em grupos multiculturais e acham que o multiculturalismo é algo natural. O termo “pessoas de origem migratória”, mesmo que possa ser usado de forma pejorativa, surgiu para tentar entender e quantificar o processo migratório que se instalava, cada vez mais, no país. Hoje uma em cada cinco pessoas que moram na Alemanha, ou seja, 20% da população, é estrangeira ou filha de estrangeiros.

Está claro que a situação atual não está clara para ninguém. Nenhum país ou líder tem todas as repostas para a onda migratória que está afetando o mundo todo, e alterando o quotidiano da Europa, mudando sua cara mesmo. Os empresários alemães vêm a chegada de jovens como uma mão de obra potencialmente propícia para ocupar os postos de trabalho que estão em aberto na Alemanha e para garantir o crescimento econômico do país. O governo vai ter que alterar as leis relativas a refugiados para que eles tenham o direito de trabalhar mais rapidamente, facilitando sua integração. Escolas e universidades preparam-se para receber também os refugiados e aumentar os cursos para o aprendizado do idioma. Voluntários de todas as cores e sabores atuam de várias formas ajudando os refugiados e aqueles que já foram declarados oficialmente como asilados. Pessoas comuns participam de doações, dentre e fora da internet, e no Facebook vários grupos, como por exemplo o #WelcomeChallenge (no mesmo estilo do #IceBucketChallenge do ano passado), faz ações e doações para ajudar os que estão chegando no país e depois nomeiam colegas e amigos para que a boa ação seja seguida por outros. Muitas pessoas que exercem influência e têm um papel de destaque no país, como o ator e diretor de cinema Til Schweiger, estão se engajando em prol dos refugiados e influenciando positivamente a sociedade.

Óbvio que enquanto a população ajuda, ela também tem medo. Metade da população preocupa-se com a integração e a manutenção de tantos asilados no país. Enquanto os membros da Comunidade Europeia discutem como dividir os refugiados entre si, a Hungria constrói um muro de 175 km na fronteira com a Sérvia… Enquanto turistam se deitam para merecidamente curtir suas férias nas praias, como por exemplo na ilha de Kos, refugiados chegam nessa ilha da Grécia e em muitas outras com necessidades básicas a serem atendidas… O governo alemão vai ter que contratar mais de 1000 pessoas e disponibilizar mais dinheiro para poder receber e processar os pedidos de asilo, de forma a ajudar a quem realmente precisa. Discute-se a diferença entre o refugiado, que está fugindo de uma situação insustentável de guerra e condições inexistentes de vida digna em seu país natal, e o imigrante, que busca melhor qualidade de vida, mas não está necessariamente passando por dificuldades tremendas para manter sua dignidade. Pretende-se concentrar os esforços e ajudar a quem realmente está precisando de ajuda.

A ideia de que moramos em um só planeta e de que somos todos um, somos todos seres humanos com as mesmas necessidades e desejos, urge ainda mais na situação atual. A foto do menininho morto na praia da Turquia rodou o mundo e colocou muita gente pra pensar. O Papa Francisco pediu para que cada igreja, cada mosteiro, a começar por ele no Vaticano, cuide de pelo menos uma família refugiada. Muitos aqui lembram que os alemães tiveram que fugir durante as Guerras até dentro de seu próprio país e que tiveram a sorte de serem recebidos e terem podido reerguer suas vidas em outras partes da Alemanha, outros por sua vez em muitas outras partes do mundo, também como emigrantes. Ontem foram eles, hoje são outros. Ontem foram alvo de solidariedade, hoje são solidários. Não há resposta para todas as perguntas atuais. Não há resposta para quase nenhuma pergunta atual. Mas há muita solidariedade de pessoas comuns como eu e você. Esta já é uma grande resposta.

Quer ajudar e não sabe ainda como? Veja aqui um Portal de Informações sobre Projetos de Ajuda a Refugiados na Alemanha.

°°°

Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos.”
Mia Couto


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