Se você também é expatriado, se lembra de alguma coluna no jornal que adorava ler quando ainda morava no Brasil? Eu me lembro nitidamente de ler com grande frequência a coluna na Folha de São Paulo de alguém que formou minha opinião, me inspirou e me mostrou várias formas de ter uma opinião crítica quanto ao que acontece no Brasil e no mundo. O nome desse cara é Gilberto Dimenstein, que nos deixou tão cedo para outro plano ontem, dia 29 de maio de 2020.
Talvez alguém ache que ele morreu de coronavírus, mas na realidade morreu da doença que já o acometia há algum tempo, que era um câncer no pâncreas. Fiquei sabendo da morte dele pela Monja Cohen. As notícias correm meio mundo rapidinho, não é mesmo?
Além de mim, eu tenho certeza que ele plantou várias outras sementinhas por aí na cabeça de muitas outras pessoas preocupadas com a democracia e com uma sociedade mais justa, humanitária e mais crítica, em todos os sentidos. Salve, Gilberto! Que você esteja muito bem aí do outro lado, agora nos reconfortando do outro lado, do plano espiritual.
O Gilberto nos deixou aos 63 anos. Foi colunista da Folha de São Paulo durante 28 anos. Participou do programa de liderança avançada de Harvard e é o idealizador do site Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. Dentre vários prêmios que ele ganhou, está o Prêmio Nacional de Direitos Humanos junto com dom Paulo Evaristo Arns e o Prêmio Jabuti, por sua obra de não-ficção, com a obra O Cidadão de Papel – A infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil.
“Grande parte da minha vida foi marcada pelo culto a bobagens: ganhar prêmio, assinar matéria na capa, o tempo todo pensando no próximo furo. É como se estivesse passando por um lugar lindo num trem em alta velocidade, vendo tudo borrado.
Quando você tem um câncer (ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, um tipo muito agressivo), não há alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno.
E aí começam a aparecer coisas incríveis. Gosto de andar de bicicleta, e comecei a sentir o vento no rosto, como se estivesse sendo beijado. Você vê seu neto deitado com você. Acorda com os bem-te-vis e escuta os bem-te-vis.“
“Ser feliz é ser livre”.
Que você esteja bem feliz e bem livre aí do outro lado, Gilberto! Muito obrigada por tudo!
Outra fonte: site da Wikipedia de Gilberto Dimenstein.