Pode ler a entrevista que dei para o Mulherio das Letras Portugal aqui.
E para que serve a escrita? Alívio da alma, nos agarramos ao belo e ao amanhã, que mais cedo ou mais tarde há de chegar!
Pode ler a entrevista que dei para o Mulherio das Letras Portugal aqui.
E para que serve a escrita? Alívio da alma, nos agarramos ao belo e ao amanhã, que mais cedo ou mais tarde há de chegar!
Quando eu era pequena, não era difícil acontecer com a minha mãe o que costuma acontecer com o meu marido ou comigo hoje em dia: chegava na sala no final do dia e ela estava dormindo de frente pra tevê.
Enquanto ele durma por cansaço do trabalho ou por causa de alguma noite mal dormida, eu não sei definir direito se o motivo de eu estar dormindo durante o dia é um misto de idade, menopausa ou principalmente por causa da pandemia. Sejamos honestos: ela cansa! Você pára de assistir notícias, fica se perguntando o que está acontecendo aqui e lá (sim, expatriado sofre dobrado, com as notícias do país onde vive e do país de origem). Quando assiste as notícias dá uma misto de pensar que a) já ouvi isso antes b) será que vou ouvir isso amanhã de novo? c) que notícias terríveis, quando isso vai acabar? d) tenho vontade de hibernar e só voltar do sono profundo quando tudo isso acabar! Tem hora que a única pessoa acordada aqui em casa é o Daniel, que ainda não está na idade nem de dormir de dia e nem de ficar sofrendo demais com as atualidades.
Outra coisa que a mamãe costumava fazer e eu achava estranho, mas super engraçado, era colocar coisas no lugar errado, simplesmente porque o braço dela fazia o movimento e a cabeça dela estava em outro lugar naquele momento. Já aconteceu de eu abrir o armário da cozinha lá de casa e achar o controle remoto da tevê lá dentro, deixado por ela. Hoje, na hora do almoço, abri a gaveta das panelas e lá dentro achei uma caixinha de leite. Aqui em casa compramos leite na caixinha, que quando aberto vai para a geladeira. Achei aquilo inusitado e fiquei me perguntando quem tinha colocado aquela caixinha ali, se era o Daniel ou o Matthias. Quando almoçamos perguntei e logo em seguida, pela reação deles, acreditei rapidamente que tinha sido eu mesma, que além de não ter visto o que fiz, tampouco me lembrava do feito! Tenho a quem puxar!…
Outra coisa que tenho a quem puxar é, segundo o Matthias, a força “gavetacional” (e não gravitacional) que as coisas da casa exercem sobre mim, porque elas tendem a ir para dentro de alguma gaveta antes mesmo de eu raciocinar se preciso daquilo ou não. Mamãe também me ensinou esse feito! Filha de peixe!…
Pelo menos tenho a declarar que essas mazelas não se repetem ad infinitum: tanto a minha irmã Rê quanto a minha filha Taísa sairam uma versão bem mais organizada do que eu ou a vovó Eny. Vai ver que mais tarde a Taísa não vai dormir de frente pra tevê, nem colocar coisas sem nem notar em lugares inusitados.
E por falar em mais tarde, no último final de semana achei um conto em uma revista alemã que me deixou bastante pensativa: ele se referia a um COVID-39, tipo o COVID-19 na versão de 20 anos mais tarde!… No conto, espero eu fictício, o autor comentava como era a vida antes do coronavírus e como ela tinha se transformado – e ficado para sempre?!? Espero que não! Assim como nós, seres humanos, temos direito à evolução, espero firmemente que esse bichinho evolua, se transforme em algo domável ou melhor, desapareça por completo do nosso planeta. Será que é desejar demais? Só o futuro dirá!…
18/03/21 – Sandra Santos, Mineirinha n‘Alemanha
(Na Alemanha: estamos à beira da terceira onda, trabalhando em casa há praticamente um ano, as mutações se espalham, as discussões sobre o próximo lockdown voltaram à tona.
No Brasil: ontem morreram 2.648 pessoas, começam a “diluir” os medicamentos necessários para a intubação, que em breve podem estar em falta nos hospitais. Há um ano morria no território brasileiro a primeira pessoa de COVID. Lembro-me que chorei naquele dia…)
Procurando o nome em português de um dos meus livros prediletos, O Presente do Mar, da autora Anne Morrow Lindbergh, acabei tendo a agradável surpresa de descobrir que ela também foi poetisa! Escrevo poetisa e não poeta como tantas gostam no Brasil, pois enquanto lá muitas querem ser chamadas como os homens, eu prefiro ser quem sou, mulher, e como tal ser chamada de poetisa. Outro dia inclusive estava lendo sobre a editora dos dicionários de alemão Duden que comentou que antigamente se escrevia como explicação da palavra médica simplesmente “palavra feminina do masculino médico” e hoje em dia se escreve “mulher que pratica a Medicina”. O poder das palavras! O dia que descobrirmos o poder que elas têm, avançaremos mais e mais!…
Mas voltando à razão primária deste post, achei aqui alguns lindos poemas dela, e abaixo deixo um dos que mais gostei:
SEGURANÇA
Encontramos refúgio numa concha –
ou numa estrela;
mas entre as duas,
não há.
Encontramos paz na imensidão –
ou nas pequenas coisas;
mas entre as duas,
não há.
O planeta nos céus,
a concha na areia:
e embora os céus e a terra
estejam entre eles,
não encontramos paz
em nenhum outro lugar.
Tu que procuras
um refúgio, aprende
com as mulheres que sempre souberam
os caminhos seguros da vida.
o caminho
seguro de uma agulha – ou de uma estrela;
uma próxima – outra distante.
A que poderíamos comparar
a luz refletida num dedal,
senão ao alto brilho
de Arturo?
Uma próxima – outra distante:
mas entre as duas,
onde
encontrar conforto?
Encontramos refúgio numa concha –
ou em uma estrela:
mas, entre as duas,
em lugar nenhum.
.
SECURITY
There is refuge in a sea-shell –
Or a star;
But in between,
Nowhere.
There is peace in the immense –
Or the small;
Between the two,
Not at all.
The planet in the sky,
The sea-shell on the ground:
And though all heaven and earth
between them lie,
No peace is to be found
Elsewhere.
Oh you who turn
For refuge, learn
From women, who have always known
The only roads that life has shown
To be secure.
How sure
The path a needle follows – or a star;
The near – the far.
With what compare
The light reflected from a thimble’s stare,
Unless, on high,
Arcturus’s eye?
The near – the far:
But in between,
Oh where
Is comfort to be seen?
There is refuge in a sea-shell –
Or a star;
But in between,
Nowhere.
– Anne Morrow Lindbergh, no livro “O Unicórnio e outros poemas” (Ibis Libris, a sair).. [tradução e apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2015.
Desta vez a opinião é sobre o meu “clássico”, o primeiro livro, homônimo desde blog, o Mineirinha n’Alemanha:
“Terminei seu livro e gostei muito! Pena que não li antes de vir pra Alemanha; teria me poupado muitos perrengues! 😊
Seu livro é muito interessante e muito informativo também! Compartilhamos muitas experiências, mas com pontos de vista diferentes! Muitos legal ver isso!
Realmente o seu é um livro necessário, de utilidade pública!”
Pra quem tiver ficado curioso, ainda tenho alguns poucos volumes restantes! Vindo de mim, chega com autógrafo! 😉 O livro também está disponível como e-book nos sites da Amazon de todo o mundo!