Para quem se interessa por história e tem relativo sangue frio para assistir algo pesado mas ainda assim muito bem feito deveria ir ao cinema para assistir o filme que está passando sobre os últimos dias da Segunda Guerra em Berlim, chamado “Der Untergang“.
O filme relata muito do que se passou durante os últimos dias da Guerra em Berlim, quando a cidade foi tomada pelos russos. Enquanto muitos civilistas morriam de fome, de frio, bombas caiam e explodiam por todo o lado e muitos feridos tentavam se salvar em “hospitais” super-lotados, Hitler se mantinha debaixo da terra, ao lado de sua futura esposa Eva Braun, suas secretárias particulares e muitos comandantes de guerra, insistindo em não querer acreditar que a Guerra estava chegando ao fim e que ela a havia perdido.
Segundo Hitler, se a guerra estava perdida, todos os civilistas poderiam morrer e ele não deixaria que uma lágrima corresse por causa deles, pois eles não mereciam seu pesar. O filme mostra um Hitler muito nervoso, colérico, frio, louco, sem piedade, mas ao mesmo tempo em algumas situações ele consegue ser gentil com crianças ou pessoas próximas a ele. Este filme consegue mostrar tão bem como a figura de Hitler exercia absoluto domínio sobre as outras pessoas, como um ídolo, um Deus, mesmo sendo na realidade um demônio sem sentimentos.
Outra oportunidade de ler sobre os últimos dias da Guerra é através do livro de Antony Beevor ou visitando a página da Época, onde há um artigo da revista sobre a barbárie de Berlim. O filme não tocou nesse assunto, mas o livro conta que muitas mulheres entre 8-80 anos foram estupradas durante os últimos dias da Guerra em Berlim, como forma de repúdio pelo que os nazistas haviam feito antes na Rússia, ainda durante a Guerra.
No filme, uma das figuras principais é a secretária de Hitler, Traudl Junge. Ela consegue sobreviver às torturas dessa época e é entrevistada poucos anos antes de morrer, em 2002. Ela disse que não tinha conhecimento do que estava acontecendo exatamente acima da terra, ela não sabia que 6 milhões de judeus haviam sido mortos pelos nazistas. Ela disse que talvez ela pudesse ter se informado mais naquela época. E eu me perguntei se isso teria feito alguma diferença, pois ela não detinha poder, era uma secretária responsável por estenografia e datilografia e não ocupava nenhuma posição social que a permitisse ter tido a oportunidade de ajudar tantas pessoas quanto por exemplo o empresário Schindler, que conseguiu salvar muitos judeus dando trabalho a eles em sua empresa (do filme “A Lista de Schindler”).
Através do filme é possível entender realmente o que se passou nesse país há poucos anos atrás e entender que esse tema continua muito atual e continua sendo muito discutido, dentro das salas de aula e fora delas. Na Alemanha, não é raro encontrar documentários na televisão e muitíssimos livros que tratam sobre todas as fases das guerras e sobre o tempo do regime nazista.
Durante o filme, às vezes você se sente parte dos acontecimentos, de tão reais. No final do filme, saí do cinema pensando que muitas vezes me esqueço do fato de que muitos dos adultos e velhinhos de hoje aqui presenciaram as barbaridades de outrora.
Em alemão há duas palavras para monumento : “Denkmal” é o monumento que lembra algo que se passou e que não traz nada negativo consigo, enquanto “Mahnmal” é um monumento para algo que se passou e que não deve se repetir jamais. Assim, o filme é um verdadeiro “Mahnmal” para a história da humanidade.
Esta produção alemã mostra a verdade nua e crua dos tempos de guerra, e contribui para que a Alemanha e o mundo de hoje ocupem-se com um tema histórico mas ao mesmo tempo, infelizmente, tão atual. A humanidade avançou em tantos pontos, mas ainda não é capaz de viver em paz. Até quando?
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