Posts Tagged ‘direitos’

::Dois anos de pandemia – e por onde anda a fé na humanidade?::

21/02/2022

Já estamos metidos nesta lenga-lenga há dois anos, e a capacidade comercial e mercantilista do ser humano o fez capaz de criar máscaras de luxo, perceber que oferecer testes de COVID dá dinheiro… O ser humano capitalista sempre acha um novo método de como fazer dinheiro. 

Enquanto isso, as tragédias não querem cessar, enquanto a natureza continua avisando que a estamos destruindo e ela joga fogo, ar (ventos fortes, furacões), água, todos os elementos nos são devolvidos, um após o outro, para que talvez consigamos perceber que CHEGA, que temos que implementar medidas imediatas para nos salvar, para salvar nosso planeta, se quisermos que ele continue a ser a casa das próximas gerações. 

A mesquinhez do ser humano potente e louco pelo poder não deixa por menos e coloca o mundo mais uma vez à beira de uma guerra imbecil, inútil, desnecessária. Cá estamos nós, em pleno fevereiro de 2022, como se nunca tivéssemos passado por tanta tragédia, discutindo sai dia, entra dia, sobre o perigo eminente de uma guerra entre o ocidente e a Rússia ante uma possível invasão da Ucrânia. Me poupem, eu quero descer!… Por outro lado, vemos a mesquinhez individual correr também solta nos exemplos do Tinder Swindler e da Anna russo-alemã que passou a perna em toda a high society de Manhattan enquanto eles tinham como objetivo mera e simplesmente aumentar sua própria riqueza e campo de influência. 

Mas enquanto tudo parece mais o fim de um mundo que talvez não nos mereça, eu busco luz. Luz nos encontros possíveis do dia a dia. Luz nas trocas dignas de irmãs que vêem o massacre nu e cru de um Brasil machista e desigual, mas não o aceitam. Mesmo tendo ficado boquiaberta com um estudo da Universidade de Brasília sobre grupos masculinos durante a pandemia, sobre quais mensagens muitos homens brasileiros trocaram durante meses na pandemia, eu passo pela nojeira do artigo, ainda que necessário, e me vejo discutindo com mulheres que querem crescer e ajudar outras a crescer, a ocupar seus espaços, a se abraçar enquanto pessoas, com todas as suas partes e verdades que elas levam consigo: gorduras, rugas, cabelos brancos, celulites, tudo e mais um pouco com o que elas se preocupam, levando em conta também que muitas outras estão lutando lutas bem mais duras como a da pobreza, da doença, da saúde física e mental debilitadas. Elas buscam por qualidade de vida, e se voltam para si – interessante quando vejo em um grupo de homens o movimento inverso, que não se voltam para si, mas contra as mulheres. Parece que ainda vale a pena atacá-las, então?

Parece que sim, vale sim. Ainda que cumpramos muito mal o nosso papel de nos representar, de nos solidarizar, de manter nossa bandeira bem no alto, mas ainda assim incomodamos, ainda mais durante a pandemia. Mesmo que durante a pandemia tenhamos conseguido dar muitos passos para trás, porque a pobreza da mulher aumentou, muitas mulheres estão pedindo para reduzir seu horário de trabalho para dar conta dos afazeres pandêmicos que incluem casa e filhos estudando em casa, e enquanto muitas meninas não voltam para as escolas simplesmente porque enquanto estavam em casa durante a pandemia foram casadas por seus pais, e agora se ausentarão para sempre das aulas. Tarde demais para elas, infelizmente. 

No meio desta lama, continuamente à procura de luz, eis que anuncio três ou quatro possibilidades encontradas com muita dificuldade durante a pandemia, umas por acaso, outras fruto de muita pesquisa e planejamento, outras por investimento puro e simples, o de respirar e fechar os olhos. Vejamos:

  1. Fechar os olhos, respirar e buscar o meu mundo interior foi uma das melhores atividades até agora durante a pandemia. Ainda que eu reconheça que o simples ato descrito anteriormente nem sempre – ou quase nunca – faça com que eu consiga visitar meu mundo interior, pelo menos – e que maravilha poder dizer isso! – agora eu tenho um, só meu. Lá sempre faz sol! Já o visitei com riqueza de detalhes. Mas continuo explorando, sempre quando minha inquietude deixa. 
  2. Viajar nunca foi tão essencial quanto é agora. Dar aos olhos o presente de ver coisas diferentes, respirar outros ares e encher a memória de outra coisa que não seja os detalhes das nossas quatro paredes se tornou algo essencial, ainda que muito mais caro, capitalismo, pandemia e inflação que o diga! Ainda assim, repito. Essencial!
  3. Ter fé também é imperativo. Tento intercalar a avalanche de notícias ruins com coisas, conversas, exemplos, livros bons! Um deles, indico em alto e bom som, o documentário 2040 na Netflix. Que todos, principalmente os mais jovens o vejam, pois o mundo precisa de mais fé e esperança, não só no que pode vir, mas acima de tudo naquilo que já existe e está sendo feito HOJE de bom no mundo.
  4. Completando um ano de lançamento do meu último livro, o HERstory, continuo na reflexão de como nós mulheres não conhecemos a nossa própria HERstória, como muitas de nós tem vergonha de dizer que sim, somos feministas, não porque somos contra os homens, mas sim porque queremos andar lado a lado com eles na construção de um muito mais justo, solidário e igualitário para ambos. Neste sentido, indico um documentário que acabei de achar por acaso também no Netflix, durante o qual aprendi muito e, munida do gás que ele me deu, escrevi estas linhas – deixei passar muito tempo sem escrever!… Se você, homem ou mulher, jovem ou velho, não importa quem seja, se estiver com tempo e não tiver nada urgente para fazer na próxima hora que segue, sugiro: largue tudo, aperte o botão e assista este documentário histórico das lutas femininas que é o Feministinnen: was haben sie sich gedacht? (Feministas: o que elas estavam pensando?). Da cineasta independente americana Johanna Demetrakas. O documentário é de 2018, mas é como se tivesse sido feito ontem. No meio do documentário aliás uma mulher se pergunta por que ainda tem que ir às ruas para protestar pelas mesmas coisas sobre as quais já tinha protestado há anos junto de sua mãe.
  5. A lista poderia ser interminável e é por isso que eu peço as suas dicas para se manter lúcido e vivo. Obrigada pelos comentários!

P.S.-Se houver algo que você goste muito de fazer como no meu caso com relação à escrita, não fique meses a fio sem praticar. Isso desconecta neurônios… Passei pelo menos o mesmo tempo escrevendo quanto procurando uma maneira de acessar meu blog. Enfim…

::Salário igual para trabalho igual: avaliação de discriminação salarial garantida por lei na Alemanha::

23/02/2021

Uma corte alemã decidiu que se uma mulher entra na justiça para requisitar a avaliação do seu salário em comparação a colegas do sexo masculino, e for constatada uma diferença para menor de seu salário comparado à média dos salários de colegas do sexo masculino para o mesmo tipo de trabalho, que este fator marca uma presunção de que a desvantagem salarial está relacionada ao gênero. Neste caso, o empregador será obrigado a provar o contrário e se não lhe for possível, a mulher poderá receber a diferença paga entre os gêneros. (BAG, decisão de 21/01/21 – 8 AZR 488/19 – PM 1/21).

Leis importantes na Alemanha com relação a direitos trabalhistas:

Entgelttransparenzgesetz (EntgTranspG) – lei de transparência salarial, que garante salário igual para trabalho igual, de 06/07/17;

Allgemeines Gleichbehandlungsgesetz (AGG) – lei de tratamento igualitário.

::Catarina de Bora / Catarina Lutero::

05/11/2017

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Em alemão, o nome da esposa de Martinho Lutero (Martin Luther) era Katharina von Bora ou, depois do casamento, Katharina Luther. Ela foi freira católica, mais tarde esposa, mãe de seis filhos, mulher de negócios, dona de uma pensão e de uma cervejaria, de campos que usava para plantar os legumes e criar os animais que usaria para oferecer refeições aos clientes da pensão, entendia de ervas medicinais, tinha tempo para jardinagem, cuidado de animais, compra e venda de imóveis, administração dos negócios e propriedades… Era uma mulher com voz e pensante, que nasceu em 29 de janeiro de 1499 e viveu até 20 de dezembro de 1552, a mulher por trás de Martinho Lutero, o líder da Reforma Protestante. Ela entrou para a história como uma das poucas mulheres de sua época que vivia a vida que pensava ser certa para si, dentro das possibilidades da época, com pleno apoio de seu marido.

Pelo fato de ter sido freira, Catarina tinha tido a sorte de receber educação formal, algo impensado para mulheres de sua época, tendo aprendido a ler e escrever, também em latim, além de ter tido aulas de matemática, canto, cozinha, jardinagem, de cuidados com doentes e de ter aprendido as propriedades das ervas medicinais que plantava nos jardins do convento.

Dr. Martinho Lutero, ex-monge e professor de teologia da universidade de Wittenberg, líder da Reforma Protestante, via homens e mulheres como seres iguais perante a Deus, mas talvez por influência da época nem sempre ele achava, em geral, que mulheres e homens tinham o mesmo valor, apesar de ver em sua esposa a presença de Deus em sua vida e de frequentemente convidá-la para sentar-se ao lado dele nas reuniões que mantinha com outros reformistas do sexo masculino. Ele sugeriu que também meninas, além dos meninos, pudessem ir à escola para terem a capacidade de ler e formar sua própria opinião a respeito das coisas, mas chegou a afirmar que o homem era como o sol, com luz própria, e a mulher como a lua, iluminada pela luz do sol. Mesmo assim, ele primeiro a influenciou com seus escritos, afirmando que mulheres não precisavam viver como freiras para honrar a Deus, e que seriam salvas por meio da fé, quando ela decidiu fugir do convento junto de 11 outras freiras em 1523, e mais tarde, depois do casamento em 1525, proporcionou à Catarina, a partir de seus 26 anos, uma vida em liberdade, lhe dando os meios para que ela transformasse o local onde viviam em uma pensão e se ocupasse diariamente da criação dos muitos filhos, da administração de suas propriedades, da impressão e venda das ideias de seu marido Lutero e dos clientes da pensão, que chegavam a formar um grupo de 40 pessoas, para quem tinha que oferecer diariamente hospedagem e comida. O que tinha começado como um casamento arranjado e com grande diferença de idade (16 anos) entre um ex-monge e uma ex-freira, plenamente criticado pela sociedade em que viviam, acabou resultando em uma união estável com pontos positivos para ambos.

Entretanto, sua vida mudou completamente quando Martinho Lutero morreu, em 1546. Apesar dele ter deixado um testamento reconhecendo sua esposa como sua única herdeira e declarado que ela tinha plenos direitos sobre os filhos, fato que não era comum na época e contra o que ela enfrentou muitas dificuldades. Além do mais, teve que fugir de representantes da igreja católica e de ondas de doenças como a peste, tendo perdido suas propriedades e sido forçada a viver da ajuda de outras pessoas. Em uma dessas fugas, se envolveu em um acidente de charrete, que ela mesma guiava e que a levou à morte, seis anos depois de seu marido ter falecido. Ela morreu no ano de 1552, doente e praticamente empobrecida, em Torgau, na Alemanha.

Fontes: diversos artigos na Wikipedia do Brasil e da Alemanha, MDR, assim como diversos vídeos e documentários assistidos durante as comemorações de 500 Anos da Reforma.

::Por que ser feminista?::

12/03/2017

Quando eu era criança, queria falar tantas línguas quanto o Papa João Paulo II, que falava 40 línguas, e visitar todos os países do mundo, como ele visitava. Com o tempo, descobri que o Papa da minha infância lia o som dos idiomas, mas não falava tantas línguas, e decidi também que não quero visitar países onde mulheres tenham menos direitos do que homens. Alguns poderiam argumentar que esses países são poucos, outros poderiam dizer que são “só” os países muçulmanos, mas acabo de achar uma lista enorme de países onde a mulher vale bem menos do que o homem… Assim fica difícil viajar!… Pensando pelo lado positivo, espero que essas discrepâncias diminuam com o tempo e que a igualdade entre os sexos seja cada vez mais alcançada! A verdade é que em pleno século 21, onde os homens querem conquistar o espaço e estabelecer vida em Marte, muit@s ainda questionam e perguntam sobre o sentido do feminismo, e ainda há muito por conquistar para nós, mulheres.

Muito do que podemos hoje e consideramos claros direitos adquiridos do sexo feminino, foram direitos conquistados com o passar do tempo, frutos de muitas discussões e lutas, como por exemplo: o direito ao voto, ao divórcio, a frequentar uma universidade, trabalhar, ter conta própria no banco, dirigir, decidir se queremos ou não fazer sexo (também dentro do casamento)… a lista seria interminável se contássemos as desigualdades que ainda existem nos dias de hoje, nos quatro cantos do mundo: desigualdade de gênero, de salários, na divisão do trabalho doméstico, no tempo investido (e não remunerado) com o cuidado de familiares, a dependência feminina até a aposentadoria, para aquelas que não têm um salário próprio…

Enquanto isso, na Suíça, li recentemente um artigo dizendo que a atuação feminista das mulheres, como p.ex. as ações durante o Dia Internacional da Mulher, deixa os homens inseguros. Muitos deles, por não saberem direito mais como se portar perante uma mulher, preferem assistir filmes pornográficos no lugar de manter um relacionamento!… Mas a resposta, na realidade, é bem simples: um “não” significa um “não”!… Como dizia a minha avó: “quando um não quer, dois não brigam (ou brincam)”!… Cada par define o que está bem para eles  e os deixa felizes, definindo suas regras e compromissos aceitos entre as partes.

Vamos às leis absurdas que ainda imperam no mundo contra as mulheres:

– Uma mulher tem que permitir “sexo ilimitado” ao marido, assim que ela completar 15 anos na Índia e 13 anos em Singapura! No Yemen, onde o casamento entre crianças é algo muito comum, não existe nem uma idade mínima para tanto. Isso quer dizer que se um homem violentar sua mulher nesses países, ele não cometeu nenhum crime perante a lei;

– Na Tansânia, uma menina de 15 anos pode se casar com o consentimento de seus pais, ou até com 14 anos através de decisão judicial, se “razões importantes “ puderem ser consideradas, enquanto que meninos  só podem se casar aos 18 anos;

– Na Jordânia ou no Líbano, só é dada a nacionalidade automática destes países a filhos cujo pai seja jordaniano ou libanês. A nacionalidade da mãe não é levada em conta e não é transferida automaticamente ao seu filho. Se uma mãe jordaniana for casada com um homem de outra nacionalidade, seus filhos não terão o direito de receber a nacionalidade da mãe e perderão direitos como o de concorrer a empregos públicos ou ligados ao sistema de saúde e escolar;

– Em Malta, se uma mulher for raptada e decidir se casar com o agressor, este não precisará ser julgado perante a lei e não irá cumprir pena de prisão;

–  No Líbano, se uma mulher for raptada ou estuprada e o agressor se casar com ela em seguida, ele também estará livre de julgamento;

– Ainda há 46 países do mundo que consideram que a mulher é um acessório masculino e que só pode agir na esfera do seu consentimento, não lhes oferecendo proteção contra a violência doméstica. Na Nigéria um homem tem até o direito de bater em sua esposa, com o objetivo de castigo e repreensão, desde que desse castigo não resultem “danos irreparáveis e permanentes”. Em muitos países, 25% ou mais acham justificável um homem bater na esposa (estudo de 2010 feito pela Asociación de la Encuesta Mundial de Valores). Atualmente, a violência doméstica mata cinco mulheres por hora (!) diariamente em todo o mundo;

– No Chile, na Tunísia e na Inglaterra, em caso de herança, o homem recebe mais do que a mulher. Na Tunísia, uma lei de 1956 prevê que um filho homem recebe o dobro da herança de uma filha mulher. Na Inglaterra, a casa da família será passada para o primeiro filho homem do casal, independente do número de filhas mulheres que tiverem nascido antes. Somente em 2012 (!) houve uma alteração na sucessão ao trono, que será dada ao primeiro filho do casal, independente de seu sexo;

– Na República dos Camarões, dentro um total de 18 países, um homem pode impedir que uma mulher trabalhe se ele for da opinião de que a atividade dela não irá contribuir para o bem da família. Uma lei como essa não é só discriminatória, mas impede que a mulher tenha renda independente e fuja da espiral da dependência e pobreza;

– Em 29 países do mundo, na Ásia e na África, o clítoris de meninas e mulheres é cortado como costume ancestral. Mais de 125 milhões de mulheres já foram vítimas dessa prática;

– A Arábia Saudita é o único país do mundo onde mulheres não podem dirigir carros!

O feminicídio é o ato máximo da violência contra a mulher, que não está só relacionado a violências externas (agressão, espancamento, estupro, assassinato, etc.) mas também a violências psicológicas (humilhação, coação, manipulação, perseguição, insulto, chantagem, ridicularização, vigilância constante, limitação do direito de ir e vir, etc.). No ano de 2015, o Brasil foi classificado como o quinto país com maior taxa de homicídio de mulheres. Segundo pesquisa da Datafolha, 33% da população brasileira diz acreditar que a vítima tem culpa em casos de estupro. Uma tristeza mundial: uma em cada cinco mulheres de até 18 anos já foi vítima de violência. Veja todas as formas de violência contra a mulher aqui.

Se você conhecer mais alguma lei ou proibição absurda contra mulheres, não deixe de incluí-la nos comentários. Se tiver algo a completar ou corrigir, agradeço por sua contribuição! Repasse este post, para que mais e mais mulheres entendam que precisamos ser amigas e irmãs umas das outras, lutando e defendendo o feminismo e a sororidade (irmadade entre mulheres). Muito obrigada!

Fontes: Jornal 20 Minutos da Suíça de 10/03/17, artigoTreibt Feminismus-Hype Männer in die Porno-Falle?”; website Global Citizen, artigo10 völlig absurde, frauenverachtende Gesetze, die auch heute noch existieren”, website La Informacion, artigo “La ablacion del clítoris se practica en 29 países de Asia y África”; website http://www.compromissoeatitude.org.br, artigo “Em muitos países, 25% ou mais acham justificável um homem bater na esposa”; website http://www.agenciabrasil.ebc.com.br, artigo “Violência doméstica mata cinco mulheres por hora diariamente em todo o mundo”; página www.ultimosegundo.ig.com.br, artigo “Meus pais me ameaçavam com motossera”: veja casos de violência contra a mulher”, página www.cnj.jus.br, artigo “Formas de violência”.

::A hierarquia dos direitos::

09/01/2015

Tenho muitos amigos virtuais com quem adoro trocar ideias. Nunca os vi pessoalmente, mas eles enriquecem – e muito – a minha vida. Um deles é o autor deste texto aqui, Fernando Cavalcanti, de Recife:

Betinho: “Pode explicar esse atentado de ontem na França? E por que tanta comoção?” Eu: “Sim. Ontem terroristas metralharam 12 pessoas na redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo, e isso vem sendo encarado como um atentado à liberdade de imprensa. O motivo é que essa revista, há algum tempo, publicou charges sobre o profeta Maomé. Recebendo ameaças de morte de grupos fundamentalistas islâmicos, seu editor-chefe, Stephane Charbonnier, o ‘Charb’, respondeu que não se retrataria, pois considerava a liberdade de expressão, inclusive a de zombar (‘moquer‘) de pessoas e idéias, como mais sagrado para a democracia do que qualquer religião. E que preferia morrer de pé do que viver de joelhos. Ontem ele foi um dos jornalistas assassinados.” Betinho: “Horrível. Mas, tio, eles também provocaram, né? Você sempre me ensinou a respeitar as crenças dos outros. Se tivessem ficado quietinhos, nenhum mal lhes teria acontecido.” Eu: “Seu raciocínio parece lógico, mas é errôneo e perigoso.” Betinho: “Por quê?” Eu: “Porque só leva em conta a questão mais superficial, que é a da ação e reação, e negligência a principal, que é o da hierarquia dos direitos.” Betinho: “Como assim?” Eu: “Uns direitos são mais valiosos do que outros. O direito que merece o maior respeito é o direito à vida, pois é a base de todos os demais. Logo, achar que o fato de alguém desrespeitar as suas idéias lhe dá o direito de responder matando essa pessoa é tão absurdo como considerar que o fato de alguém jogar lama na sua cabeça lhe dá o direito de reagir arrancando a cabeça dele.” Betinho: ” Eu nunca defenderia um assassinato. Quis dizer que é preciso respeitar a religião e a cultura dos outros.” Eu: “E eu sempre ensinei vc a ter esse respeito. Mas quero que vc aprenda a respeitar em primeiro lugar a vida alheia; Em segundo, os bens materiais alheios; Em terceiro, a expressão das idéias alheias; E, por último, a fé alheia.” Betinho: “Você, tão religioso, considera o respeito à fé alheia o menos importante de todos?” Eu: “Sim. Porque minha vida e meus bens materiais podem ser facilmente destruídos por qualquer um; Minhas idéias podem ter sua expressão impedida pelos governantes; Mas minha fé é um presente todo particular em minha vida, que só eu mesmo posso me dar ou abandonar. Ela não pode ser destruída, pois é imaterial. E sua expressão não pode ser reprimida, pois ocorre diretamente entre mim e Deus.” Betinho: “Nunca tinha pensado nisso! Que a fé, quando é forte, não precisa de proteção!’ Eu: “A fé, quando é forte, dá proteção. E coragem. E é isso que diferencia o mártir do fanático: o fanático está pronto a matar por sua fé; o mártir, que é o verdadeiro crente, a morrer por ela. Nesse sentido, Charb e seus colegas, ateus e irreverentes, mas que morreram defendendo desarmados suas idéias, foram muito mais religiosos do que a maioria das pessoas que diz ter fé.” Betinho: “Que Deus os tenha!” Eu: “E nos faça nunca esquecer seu exemplo.”

::Gravidez e direitos de mãe na Alemanha::

21/09/2014

Você está grávida, meus parabéns! 🙂 Assim que ficar sabendo que está esperando um bebê, e assim que for possível determinar a data provável do nascimento dele, peça para o ginecologista que emita um documento chamado “Schwangerschaftsattest”, que é um atestado de gravidez que deverá ser entregue ao seu empregador. Assim seu emprego estará garantido por lei, sendo que seu empregador não poderá lhe mandar embora de maneira nenhuma a partir deste momento até o fim do terceiro ano de vida de seu filho.

Com base na data de nascimento do bebê, informada no atestado, (more…)

::Os direitos da mulher:

08/03/2009

Há dia comemorativo pra tudo, principalmente para aquilo que se lembra em um dia e se tende a esquecer nos outros 364 dias do ano. Assim é, pelo menos ainda, no caso do Dia Internacional da Mulher. Se já tivessemos chegado a uma posição realmente equalitária em relação aos homens, este dia já teria se tornado desnecessário. Eu, pelo menos, não tinha conhecimento, mas o Dia Internacional da Mulher surgiu há 98 anos através da iniciativa da alemã social-democrata Clara Zetkin. Por influência dela, mulheres da Alemanha, Dinamarca, Áustria, Suécia e Suíça se reuniram em março de 1911 para exigir o direito de decisão política, salários iguais e mais direitos para as mulheres nos campos do trabalho e da saúde.

Os direitos iguais entre homens e mulheres existe na Alemanha há 50 anos. No dia 01/07/1958 foram implementadas as primeiras leis de igualdade entre homens e mulheres no país. Até então, ao homem cabia sempre a última palavra. Ele decidia se ela podia trabalhar fora ou se envolver politicamente. Mesmo se a mulher ganhasse algum dinheiro trabalhando fora, o homem tinha o direito de administrar sozinho as finanças da família e só ele podia abrir uma conta de banco. A partir de 1958 a mulher obteve a permissão de administrar seu próprio dinheiro e passou a poder abrir uma conta de banco sem a necessidade de autorização prévia do marido ou do pai. A mulher obteve também o direito de trabalhar fora, contanto que essa atividade estivesse “de acordo com seus deveres como mãe e dona-de-casa”. Até aquela época o homem tinha o direito de pedir demissão – sem necessidade de obedecer prazos contratuais – em nome da mulher. Só desde 1977 foi decidido por lei que as finanças do casal deveriam ser administradas em conjunto pelo homem e pela mulher e que a mulher podia trabalhar fora sem pedir permissão para seu marido. A partir daquele ano passou a não existir mais a divisão de tarefas do casal delimitada por lei.

Com as leis de igualdade foi decidido também que a mulher tinha o direito de continuar a ter o sobrenome de solteira junto do sobrenome do homem. Até 1994 era exigido que a família se decidisse por um sobrenome comum. Desde 1976 foi decidido que o sobrenome da família poderia também ser o sobrenome da mulher. Até hoje as mulheres casadas na Alemanha tendem a assumir o sobrenome do marido, retirando seu sobrenome de solteira. O sobrenome do marido costuma agir como denominador comum para todos os membros da família. Famílias com sobrenomes diferentes costumam enfrentar um certo preconceito na sociedade.

Quanto ao direito de voto, a mulher o obteve por exemplo na Alemanha e na Áustria no ano de 1918, no Brasil desde 1932 e na Suíça só no ano de 1971!

Apesar de tantas leis e tantas decisões com relação à igualdade entre homens e mulheres, não se pode afirmar que vivemos em total igualdade de direitos e deveres. O mundo atual se tornou bastante complexo e o homem também está tendo que se readaptar em seu papel na sociedade, tendo deixado de ser aquele que cuida exclusivamente do sustento da família, tendo passado a buscar por seus direitos de cuidar dos filhos e em muitas vezes querendo dividir os deveres dentro de casa. O certo é que enquanto o Dia Internacional da Mulher existir, haverá desigualdade entre os sexos, pois o final das desigualdades tornaria a data comemorativa completamente desnecessária.

Fontes: Gedanken zum Frauentag (Pensamentos sobre o Dia da Mulher), jornal Südkurier Nr. 55 de 07/03/2009, páginas do SPD-Bochum, Wikipedia, Women’s Suffrage e 1Live.

::Família & política::

19/10/2008

Sabe aquelas festas de família onde você vai obrigada? Pois é, pois é. Ontem fui numa dessas. E através dos lugares pré-definidos para que os convidados se sentassem no local da festa, e pela reação dos demais familiares percebi que estavam me passando a mensagem de que era «família de segunda classe», se vocês entendem o que eu quero dizer. Fiquei com raiva, decepcionada, triste. Mandei inicialmente as mesmas energias ruins que tinha recebido de volta para essas pessoas. Hoje tive a oportunidade de rever a situação com uma amiga minha muito querida e muito esclarecida, espiritualmente falando. Ela me explicou que se fico decepcionada com a reação do outro e coloco juízo de valor em sua atitude, estou devolvendo na mesma moeda, o estou categorizando da mesma forma que ele está fazendo comigo. Posso decidir que, apesar de ter visto a agressão, vou optar por continuar em paz comigo mesma e continuar a ser atenciosa para com o outro. E posso entender que se ele age desta maneira, é porque ele não consegue reagir de outra forma. E, por último, posso fazer uma análise da minha pessoa e me perguntar quando foi que eu coloquei pessoas em segundo plano, quando deixei de dar valor ao meu semelhante. Reconhecer que sou humana e falível, tão falível quanto o outro. Valeu o domingo!

Mudando de assunto, hoje votei pela primeira vez aqui na Alemanha! Apesar de termos somente um candidato a prefeito, ele precisa de um número mínimo de votos para ser eleito. E apesar de eu não concordar com tudo o que ele tem feito, considero-o um bom prefeito. Agora, com a nacionalidade alemã, não só tenho deveres nesse país, mas também direitos como cidadã, e naturalmente não poderia deixar de fazer uso deles.


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