Posts Tagged ‘empresarial’

::Liberdade de expressão x sigilo empresarial – quando a Apple tenta impedir o lançamento de um livro na Alemanha::

21/02/2020

Um ex-funcionário da Apple aqui na Alemanha estava prestes a lançar um livro intitulado “App Store Confidential”. Ele tinha se desligado da empresa e já estava dando entrevistas e fazendo promoção do livro junto aos meios de comunicação. Segundo ele, tudo o que ele conta no livro não é ligado ao sigilo empresarial, todos os dados de faturamento etc. da empresa são apresentados com prova de que eles estão disponíveis ao grande público. Além disso, ele apresentou o livro antes do lançamento para que responsáveis da empresa pudessem lê-lo. Tudo nos conformes. Mas… ele seria desligado da empresa no final de março, e agora recebeu uma carta de demissão imediata. Os advogados da Apple entraram com uma ação contra o autor e contra a editora tentando evitar que o livro seja lançado, alegando que ele está pondo em aberto o sigilo das práticas da empresa.

O super interessante é que a última vez que um livro foi impedido de ser lançado aqui na Alemanha foi em 2007. Só isso já torna o caso bastante incomum, porque a liberdade de expressão, ainda mais no campo literário, é prezada e tem valor. Vou seguir esse caso, e você? Leia aqui um pouco mais sobre o caso.

::Dutzen – tratar alguém por você em alemão::

13/02/2014

Durante a última viagem que fiz com os chefes de seção da minha empresa, decidi oferecer a eles o “du”, já que já tratava alguns deles por você, e outros por “Sie” (senhor/a). Pensei que eles eram as pessoas com as quais eu trabalhava cotidianamente e depois de alguns anos de empresa, essa decisão era perfeitamente cabível, além do mais porque temos mais ou menos a mesma faixa etária. Todos aceitaram minha oferta, a não ser um dos engenheiros, por sinal um dos mais respeitados e mais antigos na empresa. Foi um tal de senhora Santos, Sandra, senhora Santos, Sandra, pessoalmente, por escrito, que me deixou um tanto quanto insegura. Não sabia se ele não queria aceitar minha oferta. Resolvi comentar isso por e-mail, já que todas as vezes que nos víamos, outras pessoas estavam por perto. Escrevi mais ou menos o seguinte: “olá senhor x, se o senhor não quiser me tratar por você, está tudo bem pra mim, não se importe.” Ao que ele respondeu: “Oi Sandra, a sua oferta está ok pra mim, eu só tenho que me acostumar a chamar uma chefe do departamento de pessoal de você, mas eu acho que vou conseguir com o tempo.” Eu dei um sorriso quando li aquilo. Que interessante, minha posição é mesmo digna de muito respeito! Pra mim é ele que merece todo o meu respeito, pois sem ele a empresa não existiria. Ele é uma das peças principais dentro da empresa. Eu o admiro muito pelo que é, como é, pelos seus conhecimentos e pelo que atingiu dentro e fora da empresa, pelo respeito que ele tem de todos os que trabalham com ele. Que ele seja exatamente a pessoa que esteja tendo mais problemas em me chamar pelo nome, é na realidade um elogio pra mim.

Talvez uma pessoa que não more aqui na Alemanha nem entenda exatamente o que estou querendo transmitir. Mas aqui existem pessoas que passam a vida inteira trabalhando juntas, ou vizinhos, ou conhecidos, e tratam-se a vida inteira por senhor e senhora, o que faz com que todas as frases tenham que ser conjugadas de forma diferente. O “Sie” cria uma certa distância e um ar de respeito entre as pessoas, que só é substituído pelo “du” em certas circunstâncias. Dentro da empresa, o mais velho oferece para o mais novo (de idade) o “du”, a pessoa acima na hierarquia oferece para a outra abaixo da hierarquia, e por aí vai. Com o tempo, há uma grande mistura de “Sie” e “du”, o que faz do dia-a-dia uma boa de uma salada.

Uma vez ofereci o “du” para um senhor de idade dentro da empresa, que disse que agradecia muito, mas que não aceitaria por ter certeza de que não conseguiria me tratar por você, também por minha posição de responsável pela área de RH.

Em outra ocasião, me foi oferecido o “du” e eu nem soube dar tanto valor. Foi quando entrei em outra empresa, nos idos de 1998. A senhora mais antiga no departamento, de mais idade e portanto a mais respeitada, me ofereceu o “du” logo na primeira pausa, no meu primeiro dia de trabalho, dizendo que ela tinha gostado de mim. Isso permaneceu por muitos anos, mesmo depois de tantos anos onde não trabalhávamos mais juntas. Hoje em dia eu a vejo muito pouco, mas quando isso acontece, ela me trata como uma filha, por continuar gostando de mim, e por ter uma filha mais ou menos da mesma idade que eu, o que pra mim é uma honra. Ela é a amiga alemã de mais idade que tenho aqui. Hoje em dia eu sei muito bem dar valor a esse pequeno detalhe da cultura alemã.


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