Posts Tagged ‘história alemã’

::A metade do mundo é nossa::

29/09/2021

Se tem coisa que me deixa intrigada é o fato das ideias andarem voando por aí e conseguirem habitar as mesmas cabeças num mesmo momento, em diferentes partes do mundo e em diferentes idiomas. Foi assim que o avião foi inventado quase que na mesma época por Santos Dumont e os irmãos Wright.

Qual não foi a minha agradável surpresa ao descobrir uma série de documentários sobre a história das mulheres, feita aqui na Alemanha para a tevê e recém lançada, que foi intitulada…. HERstory!

E a descrição do seriado lembra muito a intenção que tive quando lancei meu último livro:

“Durante séculos, os homens contaram e interpretaram a história, escreveram a HISTÓRIA, foram a medida e o padrão para a ciência, jurisprudência e engenharia. A HERstory defende: chegou a hora de finalmente pintar o quadro inteiro.”

São quatro capítulos que tratam de medicina, queda do Muro e a vida na Alemanha Oriental, guerras e a vida na Alemanha depois da 2a. Guerra, tudo mostrado sob a perspectiva das mulheres. Imperdível! Eu diria que aprendi muito com essa série, mesmo morando aqui há tantos anos. Nunca é tarde para aprender, cada dia um pouco mais! Para assisti-los, clique aqui. Estão disponíveis por tempo limitado!

E por falar em aprender, vi um outro documentário também, na minha opinião, imperdível. Conta a história dos movimentos femininos na Europa até que fosse alcançado o direito ao voto feminino. O nome já diz tudo: “A metade do mundo é nossa – quando as mulheres conquistaram o direito ao voto”. Para assistir a recapitulação desta parte importante da HERstory, clique aqui.

Já estou curiosa para saber sua opinião sobre os documentários e aguardo outras dicas!

::Catarina de Bora / Catarina Lutero::

05/11/2017

Katharina-v-Bora-1526-1

Em alemão, o nome da esposa de Martinho Lutero (Martin Luther) era Katharina von Bora ou, depois do casamento, Katharina Luther. Ela foi freira católica, mais tarde esposa, mãe de seis filhos, mulher de negócios, dona de uma pensão e de uma cervejaria, de campos que usava para plantar os legumes e criar os animais que usaria para oferecer refeições aos clientes da pensão, entendia de ervas medicinais, tinha tempo para jardinagem, cuidado de animais, compra e venda de imóveis, administração dos negócios e propriedades… Era uma mulher com voz e pensante, que nasceu em 29 de janeiro de 1499 e viveu até 20 de dezembro de 1552, a mulher por trás de Martinho Lutero, o líder da Reforma Protestante. Ela entrou para a história como uma das poucas mulheres de sua época que vivia a vida que pensava ser certa para si, dentro das possibilidades da época, com pleno apoio de seu marido.

Pelo fato de ter sido freira, Catarina tinha tido a sorte de receber educação formal, algo impensado para mulheres de sua época, tendo aprendido a ler e escrever, também em latim, além de ter tido aulas de matemática, canto, cozinha, jardinagem, de cuidados com doentes e de ter aprendido as propriedades das ervas medicinais que plantava nos jardins do convento.

Dr. Martinho Lutero, ex-monge e professor de teologia da universidade de Wittenberg, líder da Reforma Protestante, via homens e mulheres como seres iguais perante a Deus, mas talvez por influência da época nem sempre ele achava, em geral, que mulheres e homens tinham o mesmo valor, apesar de ver em sua esposa a presença de Deus em sua vida e de frequentemente convidá-la para sentar-se ao lado dele nas reuniões que mantinha com outros reformistas do sexo masculino. Ele sugeriu que também meninas, além dos meninos, pudessem ir à escola para terem a capacidade de ler e formar sua própria opinião a respeito das coisas, mas chegou a afirmar que o homem era como o sol, com luz própria, e a mulher como a lua, iluminada pela luz do sol. Mesmo assim, ele primeiro a influenciou com seus escritos, afirmando que mulheres não precisavam viver como freiras para honrar a Deus, e que seriam salvas por meio da fé, quando ela decidiu fugir do convento junto de 11 outras freiras em 1523, e mais tarde, depois do casamento em 1525, proporcionou à Catarina, a partir de seus 26 anos, uma vida em liberdade, lhe dando os meios para que ela transformasse o local onde viviam em uma pensão e se ocupasse diariamente da criação dos muitos filhos, da administração de suas propriedades, da impressão e venda das ideias de seu marido Lutero e dos clientes da pensão, que chegavam a formar um grupo de 40 pessoas, para quem tinha que oferecer diariamente hospedagem e comida. O que tinha começado como um casamento arranjado e com grande diferença de idade (16 anos) entre um ex-monge e uma ex-freira, plenamente criticado pela sociedade em que viviam, acabou resultando em uma união estável com pontos positivos para ambos.

Entretanto, sua vida mudou completamente quando Martinho Lutero morreu, em 1546. Apesar dele ter deixado um testamento reconhecendo sua esposa como sua única herdeira e declarado que ela tinha plenos direitos sobre os filhos, fato que não era comum na época e contra o que ela enfrentou muitas dificuldades. Além do mais, teve que fugir de representantes da igreja católica e de ondas de doenças como a peste, tendo perdido suas propriedades e sido forçada a viver da ajuda de outras pessoas. Em uma dessas fugas, se envolveu em um acidente de charrete, que ela mesma guiava e que a levou à morte, seis anos depois de seu marido ter falecido. Ela morreu no ano de 1552, doente e praticamente empobrecida, em Torgau, na Alemanha.

Fontes: diversos artigos na Wikipedia do Brasil e da Alemanha, MDR, assim como diversos vídeos e documentários assistidos durante as comemorações de 500 Anos da Reforma.

::História da Alemanha::

02/11/2008

Recebi uma dica de uma amiga minha e estou assistindo todo domingo às 19h30 e terças-feiras às 20h15 uma série sobre a história da Alemanha. Hoje aprendi sobre o reinado de Barbarossa, na próxima terça-feira o tema será Martinho Lutero e o surgimento da língua alemã escrita. É muito interessante! Eu não sabia que o reinado dos alemães já foi tão extenso aqui na Europa, incluindo na época de Barbarossa parte da França e da Itália, além de parte da Europa Oriental. Dá pra aprender muito sem fazer esforço, pois os documentários são super bem feitos e de curta duração. Eles estão passando no canal ZDF, e podem também ser assistidos a qualquer momento na internet neste site.

::A Onda – Die Welle::

27/04/2008

Die Welle

Poder através de disciplina!

Poder através de união!

Poder através de ação!

Com certeza até hoje muitos se perguntam como foi possível que toda a barbaridade durante a 2a. Guerra Mundial acontecesse sem que a população alemã tivesse reagido contra Hitler e seu sistema nazista. Por que esse sistema funcionou tão bem? Como foi que Hitler conseguiu envolver toda uma nação e conquistar vários outros países do mundo usando de suas promessas e ideais? Este livro, também dirigido ao público juvenil, retrata a história real de uma experiência feita por um professor de história num ginásio americano e de suas imprevisíveis consequências, baseada nos princípios facistas. Comecei a lê-lo hoje depois da hora do almoço e às 9h da noite, com várias interrupções limpando a casa, fazendo almoço, cuidando dos meninos e recebendo uma curta visita, tinha acabado de ler suas 186 páginas. Vale super a pena! Detalhe: o livro acabou de ser filmado e está atualmente em todos os cinemas aqui na Alemanha. Mais um “Mahnmal” (objeto positivo de lembrança daquilo que não se deve ser repetido nunca mais) para todas as gerações daqui e de todos os cantos do mundo.

Curiosidade: li hoje que um piloto alemão que bombardeou a cidade inglesa de Barth durante a 2a. Guerra Mundial fez questão de ir até a cidade durante a semana passada e pedir desculpas por ter participado de sua destruição. Um ato de coragem, que foi muito bem recebido na Inglaterra!

::Os últimos dias da Segunda Guerra Mundial em Berlim::

08/11/2004

Para quem se interessa por história e tem relativo sangue frio para assistir algo pesado mas ainda assim muito bem feito deveria ir ao cinema para assistir o filme que está passando sobre os últimos dias da Segunda Guerra em Berlim, chamado “Der Untergang“.

O filme relata muito do que se passou durante os últimos dias da Guerra em Berlim, quando a cidade foi tomada pelos russos. Enquanto muitos civilistas morriam de fome, de frio, bombas caiam e explodiam por todo o lado e muitos feridos tentavam se salvar em “hospitais” super-lotados, Hitler se mantinha debaixo da terra, ao lado de sua futura esposa Eva Braun, suas secretárias particulares e muitos comandantes de guerra, insistindo em não querer acreditar que a Guerra estava chegando ao fim e que ela a havia perdido.

Segundo Hitler, se a guerra estava perdida, todos os civilistas poderiam morrer e ele não deixaria que uma lágrima corresse por causa deles, pois eles não mereciam seu pesar. O filme mostra um Hitler muito nervoso, colérico, frio, louco, sem piedade, mas ao mesmo tempo em algumas situações ele consegue ser gentil com crianças ou pessoas próximas a ele. Este filme consegue mostrar tão bem como a figura de Hitler exercia absoluto domínio sobre as outras pessoas, como um ídolo, um Deus, mesmo sendo na realidade um demônio sem sentimentos.

Outra oportunidade de ler sobre os últimos dias da Guerra é através do livro de Antony Beevor ou visitando a página da Época, onde há um artigo da revista sobre a barbárie de Berlim. O filme não tocou nesse assunto, mas o livro conta que muitas mulheres entre 8-80 anos foram estupradas durante os últimos dias da Guerra em Berlim, como forma de repúdio pelo que os nazistas haviam feito antes na Rússia, ainda durante a Guerra.

No filme, uma das figuras principais é a secretária de Hitler, Traudl Junge. Ela consegue sobreviver às torturas dessa época e é entrevistada poucos anos antes de morrer, em 2002. Ela disse que não tinha conhecimento do que estava acontecendo exatamente acima da terra, ela não sabia que 6 milhões de judeus haviam sido mortos pelos nazistas. Ela disse que talvez ela pudesse ter se informado mais naquela época. E eu me perguntei se isso teria feito alguma diferença, pois ela não detinha poder, era uma secretária responsável por estenografia e datilografia e não ocupava nenhuma posição social que a permitisse ter tido a oportunidade de ajudar tantas pessoas quanto por exemplo o empresário Schindler, que conseguiu salvar muitos judeus dando trabalho a eles em sua empresa (do filme “A Lista de Schindler”).

Através do filme é possível entender realmente o que se passou nesse país há poucos anos atrás e entender que esse tema continua muito atual e continua sendo muito discutido, dentro das salas de aula e fora delas. Na Alemanha, não é raro encontrar documentários na televisão e muitíssimos livros que tratam sobre todas as fases das guerras e sobre o tempo do regime nazista.

Durante o filme, às vezes você se sente parte dos acontecimentos, de tão reais. No final do filme, saí do cinema pensando que muitas vezes me esqueço do fato de que muitos dos adultos e velhinhos de hoje aqui presenciaram as barbaridades de outrora.

Em alemão há duas palavras para monumento : “Denkmal” é o monumento que lembra algo que se passou e que não traz nada negativo consigo, enquanto “Mahnmal” é um monumento para algo que se passou e que não deve se repetir jamais. Assim, o filme é um verdadeiro “Mahnmal” para a história da humanidade.

Esta produção alemã mostra a verdade nua e crua dos tempos de guerra, e contribui para que a Alemanha e o mundo de hoje ocupem-se com um tema histórico mas ao mesmo tempo, infelizmente, tão atual. A humanidade avançou em tantos pontos, mas ainda não é capaz de viver em paz. Até quando?


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