O final de semana passado me marcou por vários motivos. O primeiro, o principal, pela mente insana do norueguês que passou quase 10 anos planejando um ato de terror, motivado pela fobia contra muçulmanos e estrangeiros que ocupam a Europa, que ele quer deixar “limpa” de novo sem nós (eu e você que está lendo este texto e mais alguns outros por aí). O que mais me deixou literalmente boba foi o fato dele ter resolvido matar tantos jovens só com o objetivo de se auto-promover. Por ter incluído no seu minucioso planejamento o fato de não ter se matado como todos os outros loucos anteriores e por ter escrito um “manifesto” de mais de 1.500 páginas, ele conseguiu lançar uma campanha de marketing das mais inusitadas e, infelizmente, cujo sucesso repercutiu em todo o planeta. Foi por isso que ele conseguiu afirmar que o ato cometido foi “cruel, mas necessário”. Como o tal do “manifesto” do rapaz foi espalhado por ele 7.000 vezes na net antes dele sair para matar pessoas a torto e direito, não foi difícil achá-lo e ler algumas partes do mesmo, onde ele explica que não há igualdade entre os seres humanos, dá uma aula de maldades e convoca outros loucos a seguir seu exemplo. Lendo aquela loucura toda, entendi que pra ele valeu a pena fazer o que fez, pois se projetou no “mundo do mal” para um dos primeiros lugares do planeta, e para nós, cidadãos do mundo, um dos últimos. Uma busca pelo nome dele no Google aponta: hoje há 10.400.000 páginas sobre ele. Que pena!… A Noruega ficou embasbacada ao perceber que o mal não vinha de fora, mas tinha nascido e tinha sido criado, educado e formado dentro do país. O mal já estava lá o tempo todo e eles não sabiam. Independentemente de sua origem, quem poderia imaginar que um ser humano pudesse ser capaz de uma barbaridade dessas, ainda mais cometida contra jovens inocentes, acertando em cheio o cerne de uma sociedade aberta, multicultural e democrática? A parte curiosa da coisa fica o nome do infeliz: ele se chama “Anders“, o que significa “diferente” em alemão. Põe diferente nisso!
Enquanto pensava nisso tudo, no sábado o mal apareceu pra mim, ainda que bem de leve. Eu também nem pensava mais que ele morava bem ao lado e fui, como em todo sábado, fazer compras no supermercado com o Daniel, que me chamava aqui, me mostrava algo lá, como em todo sábado. No final das compras coloquei, com a ajuda dele, tudo na esteira e senti minhas pernas tremerem ao notar que minha carteira tinha sido roubada de dentro da minha bolsa! Lá se foram dinheiro, cartões de banco e documentos, e no lugar da carteira ficaram alguns telefonemas para bloquear os cartões, uma ida à polícia local e a certeza de que não voltarei a viver tão “leve, livre e solta” como antes. A preocupação com meus pertences tomou conta do meu sábado à tarde, ainda que por outro lado reconheci ter tido sorte no azar, pois tudo poderia naturalmente ter sido mil vezes pior. Desejei que o autor do roubo esteja realmente precisando do dinheiro, e desejei reencontrar meus objetos pessoais, fotos da família e lembranças da juventude que carregava comigo há tantas décadas.
Por fim, a notícia da Amy Winehouse me fez também pensar que o mal mora dentro de nós mesmos, muitas vezes na incapacidade humana de evitar ou parar coisas que não fazem bem ao corpo e ao espírito tais como cigarro, álcool e drogas, que matam e levam do mundo pessoas com um talento tão grande quanto o dela. Que ela esteja num lugar bem legal, cantando para os anjos e vivendo mais sossegada do que foi possível viver aqui, sortuda por ter alcançado tanto sucesso, mas sem sorte por ter sido vítima do mesmo.
O mal está em todas as partes. E quando menos esperamos, ele volta a dar as caras. Por outro lado, o mesmo se dá com o bem. Que pensemos nisto!