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Há alguns meses atrás o meu primeiro livro, o Mineirinha n’Alemanha, foi escolhido pelo Celso da Batatolândia com um dos 6 livros mais importantes para entender os alemães e a Alemanha. Como escritora, foi uma grande honra ser colocada ao lado de João Ubaldo Ribeiro!
Hoje recebi um retorno de uma leitora sobre o livro, o que demonstra sua atemporalidade e me deixou de novo muito feliz com mais um feedback positivo sobre ele:
“Terminei seu livro e gostei muito! Pena que não li antes de vir pra Alemanha; teria me poupado muitos perrengues! 😊
Seu livro é muito interessante e muito informativo também! Compartilhamos muitas experiências, mas com pontos de vista diferentes! Muitos legal ver isso!
Realmente o seu é um livro necessário, de utilidade pública!”
No hospital psiquiátrico estão internados 3 paulistas e um mineiro. o primeiro paulista diz:” eu sou riquíssimo, vou comprar o Citybank!”.. ao que o segundo paulista retruca :” sou mais rico ainda e quero comprar as ilhas Caimãs!”… o terceiro paulista então:” mas rico como eu, você não é: quero comprar a Microsoft!”. O mineiro pensa, pensa e diz:”não vendo!” :)))
O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora?
Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século XXI, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas.
Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças. O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro – é a alteridade que nos confere o sentido de existir –, o outro é também aquele que pode nos aniquilar… E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.
Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.
Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados elevados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, jornalistas, artistas plásticos, cineastas, escritores.
Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania – moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade –, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não-pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém…
Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios – o semelhante torna-se o inimigo.
A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.
Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados.
Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.
E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução. O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais – ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.
A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.
Mas, temos avançado.
A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década.
Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.
Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, mas privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.
Nós somos um país paradoxal.
Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo – amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão-de-obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.
Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos…
Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro – seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual – como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir.
Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra.
MINEIRO não chama a POLÍCIA, chama “USZÔMI”. MINEIRO não SENTE AGONIA, ele “SENTE GASTURA”. MINEIRO não diz COMO VAI, diz ” CUMÉ QUE CÊ TA”. MINEIRO não liga o PISCA, “DÁ SETA”. MINEIRO não para no semáforo, para “NO SINAL”. … Para o MINEIRO as coisas não estragam, “TÁ RUIM”. MINEIRO não come pão FRANCÊS, come “PÃO DE SAL”. MINEIRO não chupa TANGERINA, chupa “MIXIRICA”. MINEIRO não acha alguns alimentos sem AÇÚCAR, acha “SEM DOCE”. MINEIRO não LAVA COM ESPONJA, lava com “BUCHA”. MINEIRO não fala VARANDA, fala “ALPENDRE” Ser MINEIRO é dizer UAI e ser diferente; é ter marca registrada, é ter história.
Tirado do mural da minha leitora Raquel Magalhães Carvalho. Obrigada, Raquel! 🙂
“A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.”
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“A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.”
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“Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.”
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“Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.”
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“No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.”
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“Como as plantas a amizade não deve ser muito nem pouco regada.”
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“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
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“Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la.”
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“Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.”
No meio do ano passado, ganhei a Svea e o Ivaldo como amigos. Foi meu livro que os trouxe até a mim. A simples existência desta amizade já faz o meu projeto de ter escrito um livro ter 100% de sentido pra mim. Leiam a entrevista e entendam por quê. Antes da leitura, um recadinho sussurrado, bem pertinho no ouvido: o Ivaldo Moreira é cantor e compositor, nascido em Minas e “crescido” em Sampa, e está no momento na Alemanha fazendo sua segunda turnê musical. Dias e horários exatos aqui ou aqui (2a. página do documento). A todos os brasileiros distribuídos pela Alemanha: não percam o show dele! Tenho uma leve impressão de que irão gostar tanto da música que ele faz quanto eu, pois ela sai direto do coração dele pros ouvidos da gente. Abaixo um bocadinho do talento dele, e em seguida a entrevista:
1 – Façam por favor uma apresentação de vocês por vocês mesmos.
Nós nos conhecemos na TV Bandeirantes em SP, onde o Ivaldo era coordenador musical dos programas e eu estava fazendo o meu primeiro estágio em produção de TV. Eu era estudante, mas vivia com a minha máquina fotográfica pra cima e pra baixo, pois sempre gostei muito de fotografar, desde os meus 11 anos de idade, quando a minha avó me deu uma ‘tira-teima’, lembra?
Também sempre tive uma relação muito forte com a música e aí… bem, unimos o útil ao agradável: ele tocava pra mim, eu batia as fotos de divulgação, rolou uma química mais elaborada e aqui estamos bem juntinhos até hoje, 21 anos depois.
2 – Como surgiu a oportunidade de vocês virem em 2009 pra Alemanha, quando nos conhecemos?
Pois é. O sonho de viajar à Alemanha já era bem antigo. Mas aqui no Brasil é mesmo muito difícil conciliar tudo: moradia, lazer, família, profissão, estudo… Então fomos realizando as vontades por partes: primeiro, curtimos a vida a dois e com amigos solteiros, fizemos viagens curtas e baratas. Depois tivemos filhos, começamos as freqüentar o mundo das festinhas infantis, o apê foi ficando apertado… Estava na hora de chamar o caminhão de mudanças pra algo maior.
E aí, só depois de pagar o apartamento onde moramos agora, é que, pela primeira vez (2007), pudemos viajar juntos pra minha ‘terrinha’. Eu já havia ido outras vezes, mas sempre sozinha e para projetos profissionais. Passamos o Natal com a minha prima e suas sobrinhas nos Alpes, fomos a Heidelberg, Bonn/Köln e Berlin. Este é o meu roteiro ‘básico’, pois é onde vivem minha prima e minhas amigas. Da próxima vez, já vou incluir Konstanz, Lindau, Bernau e Paris…
A viagem com toda a família foi uma delícia! Criou vários vínculos e referências que abriram novos caminhos. Um deles, foi a possibilidade do Ivaldo apresentar o seu trabalho musical na Alemanha.
Primeiro, ele se inscreveu na Popkomm, que é uma feira / congresso / festival de música que acontecia todo ano em Berlim. Em cima da hora, a Popkomm foi cancelada, mas já estávamos buscando outras possibilidades por meio da Internet . Assim, depois de vários e-mails e acertos, fechamos uma apresentação em Bonn, outra em Berlim e uma terceira em Konstanz. Esta graças a você, Sandra!
3 – Svea, você nasceu na Alemanha mas foi pro Brasil com um aninho. Conte pra gente como é viver entre dois mundos.
Viver entre dois mundos, é uma coisa um tanto quanto complicada. Principalmente quando o mundo em que você está vivendo pensa culturalmente muito diferente daquele do qual você veio. Entre a Alemanha e o Brasil existem várias diferenças culturais, como: o horário que os filhos têm de ir pra cama e a maneira de impor limites neles; a expressão direta e sincera do alemão, a expressão política e rebuscada do brasileiro (Machado de Assis que o diga!); o jeito reservado do alemão, que quer seu sossego, mas não deixa na mão um amigo; o jeito alegre do brasileiro, que está sempre fazendo novos amigos.
Aqui no Brasil, ainda está impressa a imagem do alemão frio e cruel, representado pelas personagens nazistas dos filmes de Hollywood. Então, muitas vezes sinto um certo preconceito nas pessoas, principalmente em ambientes de trabalho. Por outro lado, sempre sou chamada pra botar ordem na casa. Em pouco tempo, consigo. Mas aí surgem os melindres, tem gente que leva pro lado pessoal, por mais cuidado que eu tenha ao chamar a atenção ou simplesmente dar uma dica. Acho que é uma questão de maturidade, de aceitação da própria imperfeição. O profissional alemão é mais bem resolvido do que a maioria dos profissionais brasileiros em inteligência emocional. Ele separa melhor, não se envolve tanto e é bem mais sincero. E, ao contrário daqui e pela experiência que tive trabalhando com alemães, na Alemanha quem se ofende com uma simples observação, é considerado um ‘Sensibelchen’, alguém cheio de ‘não-me-toques’ e é mal visto pelos colegas.
Também tenho de ser mais dura com os meus filhos do que gostaria, pra conseguir educá-los com os limites que eles precisam pra se tornarem cidadãos éticos e com uma visão de mundo mais social. Muitos pais são liberais demais e a garotada fica muito solta, ganha presentes caros, só usa roupas de marca… Mas pelo que li no seu livro, na Alemanha não deve ser muito diferente, né?
4 – Ivaldo, você vem do interior de Minas e fez sua vida em São Paulo. Como se deu sua ida para Sampa e o que a cidade significa pra você?
No início, sinceramente, eu não tinha a menor pretensão de vir a São Paulo, muito menos de VIVER em São Paulo. Tudo aconteceu porque uma irmã minha tinha se mudado para cá e eu vim para fazer companhia nos primeiros momentos, pois ela tinha dois filhos pequenos e tudo era uma grande aventura numa megalópole como esta.
Eu aproveitei que estava na cidade e fui procurar algumas pessoas e fazer alguns contatos por conta da música. Eu tinha uma recomendação para procurar uma pessoa no SBT, o Paulo Idelfonso, que era um produtor de disco e que estava dirigindo um programa de TV. Na verdade, era um festival de música infantil e eu apresentei duas composições minhas. Logo apareceram candidatos para interpretar as canções e eu acabei me envolvendo mais com o festival; em determinado momento, eles ficaram sem o produtor musical do festival e me perguntaram se eu gostaria de assumir esta função. Daí pra frente, produzi vários programas de TV, sempre trabalhando com música. E em paralelo, investia na minha carreira artística, em que eu continuo bastante focado.
São Paulo é uma cidade com muitas oportunidades, mas que também tem muita concorrência. Cavar um espaço por aqui, é um trabalho árduo. Por outro lado, a cidade abre linques pra outros estados e países, porque tudo vem ou parte de Sampa.
5 – Ivaldo, o que mais te chamou a atenção ao chegar na Alemanha pela 1a. vez?
O que me chamou a atenção logo de cara, foi a funcionalidade existente em diferentes situações que vivenciei. Todas aquelas histórias que escutávamos – e que achávamos que era meio exagero de viajante – de que tudo na Europa funciona como um relógio suíço, foi como que se materializando dentro de mim. Pois para mim era a revelação fiel de que nada daquilo era folclore. As coisas são realmente assim e funcionam sem excessos e sem desperdício… Não quero dizer que seja a perfeição. Mas que impressiona, isso sim… impressiona!!!
6 – O que vocês gostaram mais durante a turnê do ano passado do Ivaldo pela Alemanha? Contem alguns momentos emocionantes pra gente.
Ivaldo: Várias circunstâncias permitiram o sucesso dessa turnê, principalmente pelo ótimo clima de expectativa gerado e correspondido por todas as cidades por onde passamos. O que mais gostei durante a turnê foi a forma carinhosa, o companheirismo e o respeito que tivemos por parte de todas as pessoas que encontramos, que conhecemos e que se esforçavam o máximo pra nos deixar confortáveis e à vontade.
Alguns momentos se tornaram inesquecíveis, emocionantes e, sem dúvida, deixaram muitas saudades. Um deles foi num dia de sol maravilhoso…! Fizemos um passeio num barco movido a energia solar e, portanto, absolutamente silencioso. Ele deslizava suavemente pelo Lago de Constança… Acompanhados de pessoas muito especiais, novos amigos, peguei o meu violão e começamos a cantar: música brasileira, Cat Stevens, REM, Pink Floyd… e nos divertimos com a expressão de felicidade do piloto do barco, contagiado pela nossa alegria… Ah, e a Impéria! Que saudades da Impéria!!! Em meio à correria que é viver em São Paulo, várias vezes nos lembramos deste dia que foi realmente mágico! Pudemos relaxar de verdade, curtir aqueles instantes únicos, com uma tranquilidade que não tínhamos há muito tempo…
Svea: Outro momento que marcou, foi antes de seguirmos viagem a Konstanz. Estávamos hospedados num hotel-restaurante em Weiler, um bairro de Sinsheim, cidadezinha próxima a Heidelberg. A proprietária há dias vinha pedindo pro Ivaldo tocar um pouco e, na última noite, convidamos a minha prima pra jantar conosco ali na ‘Küferschänke’. Ali as mesas laterais ficam dentro de barris gigantes e duas grandes mesas redondas ficam no centro do salão. Após jantarmos, o Ivaldo pegou o violão e começou a cantar. Aos poucos, todos os que estavam ali foram saindo de dentro dos barris pra ouvi-lo mais de pertinho. Assim, a noite foi longa, regada ao bom vinho da casa, com muitos risos, aplausos, ‘saúdes’ e prosts!! Foi bom demais da conta…!
7 – Houve alguma dificuldade para vocês aqui na Alemanha durante a viagem do ano passado?
Ivaldo: Pra mim é muito fácil porque não tenho dificuldade com o idioma – viajo com alguém que fala muito bem o alemão rsrsrsrs… Quando eu estou em alguma situação sem a presença da Svea, eu misturo um pouco (muito pouco mesmo) de alemão com inglês e tento me comunicar com as pessoas… Às vezes aparece um brasileiro, português ou espanhol e a conversa acaba ficando mais fácil… Tirando a parte do idioma, pra entender o resto é só ler o livro da Mineirinha na Alemanha… vai ficar bem mais fácil!
Svea: Dificuldade, não. Mas passei por umas situações engraçadas, como em 2007, quando os meus filhos queriam um sorvete de casquinha. Na sorveteria, havia também a opção servida no potinho e não havia nada escrito, como acontece nas padarias, em que sempre há uma plaquinha embaixo, indicando a ‘espécie’ do pão. Pois bem. Passei um aperto quando fui explicar que era de casquinha – como a gente fala isso em alemão? E o vendedor me olhou como se eu fosse um ET, quando eu pedi: “in diesem Keks da…” Ou seja, nesse biscoito aí… Hoje eu sei que chama ‘Hörnchen’ (chifrinho). Mas… já pensou se aqui no Brasil a gente começar a pedir ‘sorvete no chifrinho’…? rs rs rs
8 – O que vocês levaram na bagagem (de lembranças) aqui da Alemanha?
Momentos deliciosos que vivenciamos aqui e que jamais irão se desfazer ou deixar de existir dentro de nós; reconhecimento e valorização do meu trabalho musical; lugares, cheiros, sensações, visões, situações e – acima de tudo – os amigos, os novos e eternos amigos!
9 – E do que sentem falta lá da terrinha enquanto estiveram aqui, além dos filhos, naturalmente?
Sempre do café, rs… E de vez em quando vinha aquela vontade de comer um prato de arroz, feijão e bife. Principalmente o Ivaldo, acostumado desde criança com o PF tradicional do Brasil. Eu já sou mais radical: se é pra comer feijão, tem de ser logo uma feijoada completa, acompanhada de couve manteiga, mandioca, farofa, caldo de feijão, gomos de laranja, molho de pimenta e – claro! – chopp e caipirinha de cachaça e limão.
Mas do que a gente só se deu conta assim que chegamos em Sampa que fazia falta, foi das nossas padarias! Ah como é bom chegar na padaria do português, seja ele o Sr. Manoel, o Sr. Antonio ou o Sr. José… e pedir um pão com manteiga na chapa fresquinho, acompanhado de um pingado servido no copo de vidro. Aquele bem básico, tradicional…!!! O cheiro do pão fresquinho a qualquer hora do dia, os frios fatiados na hora ao gosto do freguês, aquele brigadeirinho que o filho pede e ganha só pra matar a vontade… Isso não existe na Alemanha. Lá o pão é fresco de manhã, todos iguais em qualquer padaria. Todos os sanduíches e bolos, tortas, doces são idênticos . Não se vê mais o carinho, nem a personalidade do padeiro. Virou um fast food. E pedir um suco de laranja natural, então? Demora uns 40 minutos. E a garçonete arregala o olho quando a gente pergunta se ela esqueceu o pedido…
10 – Svea, como você descobriu a Mineirinha?
Esse negócio de internet tem um dinâmica muito louca: eu estava buscando algumas oportunidades de show na Alemanha e uma pessoa da gravadora do Ivaldo deu como dica o site ‘Viver na Alemanha’. Nele eu vi um link pro livro e, deste link eu fui parar no seu blog. Aí te mandei um e-mail como fiz com vários outros e só você e a Cristina Marques, uma musicista que vive em Stuttgart, me responderam. Aí encomendei o seu livro e fomos trocando e-mails até nos conhecermos pessoalmente em Constança, né?! 🙂
11 – Como foi a experiência de ler o livro a dois?
Ivaldo: Para mim, foi uma feliz constatação. Foi como uma compilação de tudo aquilo que eu e a Svea já havíamos coletado através de papos com amigos e outras pessoas que tinham relações e ou afinidades com a Alemanha e também com o Brasil. Foi como olhar através do prisma de alguém que experimenta o encontro de duas culturas diferentes e quer transmitir fielmente a sua experiência.
Era como se todo aquele contexto discutido e investigado ao sabor de longas e boas conversas de repente se materializasse; estava tudo ali: real e preciso, confirmando com exatidão tudo aquilo que em reflexões particularmente eu, havia imaginado e que soava bastante familiar. Foi uma delícia ler os seus relatos, dicas, histórias etc., escritas com tanta naturalidade!
Svea: E o Ivaldo passou a entender melhor várias das minhas implicâncias! rs rs rs… Eu, que sou alemã mas vivo no Brasil, vi relatadas cenas e reflexões que eu e o Ivaldo vivenciamos em nossa viagem, como a do mau humor dos alemães, o jeito de descascar a laranja do brasileiro (os alemães ficam mesmo boquiabertos!) e certos constrangimentos como a saudação nazista quando sou apresentada como alemã a alguns brasileiros sem noção… A identificação foi total!!! Agora… o que me impressionou foram as opções de parto que você descreve no livro!! Foi uma constatação real de que o alemão vai fundo mesmo.
12 – Quais são os seus próximos planos?
Estamos no comeco da 2a. turnê pela Alemanha, desta vez com mais um músico, o Paulinho de Almeida. Com novo repertório, fotos e vídeos para a divulgação. Tudo comecou com um show em Bonn, que já estava agendado desde o ano passado, que será no dia 15/10/10. Quem quiser marcar mais alguma apresentação na Alemanha, pode falar direto com a gente ou então com essa Mineirinha muito gente boa, que é a Sandra Santos.
13 – Se quiserem deixar um recado para os leitores da Mineirinha, esta é a chance!
Queremos dizer pra vocês que ao entrarem na casa de alguém que vocês ainda não ou pouco conhecem, entendam que ali naquele lugar a vida foi sendo construída com a experiência de fatos e situações que acabaram por definir valores, gestos, atitudes e comportamentos adquiridos como conseqüência do desenrolar das coisas comuns. Por isso é de muito bom tom parar e observar, experimentar antes de definir, comparar e extrair e depois permitir que novas possibilidades sejam incorporadas como adjetivo de crescimento.
Esta é a razão pela qual ler o livro da Mineirinha antes de dar o primeiro passo, é básico; pois, brilhantemente e de forma confiável e fundamentada, ela nos conduz pela porta da frente sem receio de bater joelho com joelho… Ela ensina que basta caminhar e ir descobrindo o prazer de conviver com o novo, o diferente ou com o imprevisto; sem temor, sem preconceito e sem julgamentos infundados. É só seguir em frente e, claro, sorrir com um sorriso de felicidade!!!
Obrigada, Ivaldo e Svea pela amizade e pelo carinho!!!
A 2a. janelinha do calendário traz o grupo mineiro Amaranto, que é composto de três irmãs donas de uma voz angélica e ao mesmo tempo forte, segura, singela e cheia de paz. Tive a oportunidade de vê-las ao vivo no Palácio das Artes em Beagá, no lançamento do 3° CD delas, o Brasilêro.
Abaixo primeiro uma “canja” de boteco do trio (em alemão! alguém conhece a música?) e, pra quem gostar, um pouco mais do Amaranto no 2° vídeo (Manhã de Sol). Esta musiquinha é capaz de colocar um sol dentro do coração de cada um de vocês, e consegue resistir a qualquer inverno! 😉
Nota: não achei o site oficial do Amaranto. Quem souber o endereço, favor informar.
A partir da sexta que vem, dia 25/09, há uma programação variada em Constança, como parte da “Semana Intercultural” (“Interkulturelle Woche“) da cidade. É um prato cheio para aqueles que curtem a cultura brasileira! Anotem:
– Dia 25/09:
20h: Filme “Schroeder liegt in Brasilien” no cinema Zebra com a presença do cineasta Zé do Rock. Logo depois do filme: Curta apresentação do livro “Mineirinha n’Alemanha” e show do cantor mineiro Ivaldo Moreira, que estará apresentando seu trabalho pela Alemanha até 01/10 (show em Berlim).
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